Não é nada fácil passar para a escrita este ano e pouco (de tempo mas tanto de intensidade) da minha experiência com o T. Essencialmente porque a nossa relação ultrapassou a profissional, sinto pelo T um carinho gigante e, sobretudo, muito respeito. Pode ser esse mesmo o ingrediente secreto para o nosso (e atrevo-me a utilizar a palavra) sucesso. O respeito que tenho tido desde o primeiro dia em que peguei no T ao colo, com 5 meses, para começarmos uma sessão de terapia cheia de exercícios novos para mim, para ele nem tanto já, é o mesmo respeito que hoje sinto e que prevalece em tudo e por tudo.
Desde esse primeiro dia que aquilo que o T me dá e que aprendo com ele é tanto, tanto. Apesar de outros meninos(as) com quem já tinha trabalhado e trabalho, o T foi desde logo um desafio enorme… Com 5 meses eu tinha que apresentar ao T vários estímulos, várias experiências sensoriais, motoras, cognitivas... Houve dias que nem sempre correram bem, dias fantásticos e dias neutros, em que o difícil era eu entender se tinha havido algum ganho. Hoje, reflectindo sobre este ano, afirmo que em todos os dias houve ganhos, para ambos.
O T e sua família receberam-me da melhor forma possível! Abriram-me as portas de sua casa, confiaram-me todos os lugares de sua casa, todos os meios que eu precisasse, computadores, mesas, mas, sobretudo, confiaram-me o bem mais essencial das suas vidas: o primeiro filho, o primeiro neto, o primeiro bisneto, o primeiro sobrinho, confiaram-me os primeiros sorrisos, as primeira gargalhadas, as primeiras birras, as primeiras vitórias, as primeiras dores, as primeiras lágrimas, confiaram-me o T! Assumo que este é outro ingrediente secreto para o nosso sucesso.
Houve momentos em que senti o coração da bisavó M apertadinho tal era a força do choro do T por não querer descer o plano inclinado, por não querer rastejar mais, por se desiquilibrar enquanto ainda tentávamos a posição de sentado, por não querer prestar mais atenção ao programa de leitura, por já não me aguentar mais a apresentar-lhe os cartões das quantidades… Acredito o quanto custou à avó M ver algumas das lágrimas do T, mas esta é mesmo uma família cheia de força e no final, no momento do “beijinhos, amanhã há mais”, a avó M dizia o quanto o T gostava de mim, em forma de me mimar e de um “está tudo bem, eu confio no teu trabalho com o meu T”.
“Mais vale seres tu a chorar do que eu” dizia-me a minha mãe. Pode parecer estranho, eu na altura sentia-me tão revoltada quando em momentos mais sobressaltados a minha mãe mo dizia, porque não conseguia entender. Hoje, ainda sem ser mãe, mas provavelmente pela minha profissão, começo a entender as palavras da minha mãe. Não há nada pior do que vermos quem mais gostamos chorar, é certo, mas enquanto forem “eles”, há a crença de que tudo poderá ficar bem, porque estamos cá, aqui, para os proteger e para assegurar que daquele choro certamente virá alguma aprendizagem e desenvolvimento, nós iremos garantir isso… Quando somos “nós” a chorar o caso pode ser mais grave e estar fora do nosso controlo e aí certamente aquelas lágrimas terão uma carga emocional e consequências mais pesadas.
O T chorou e ainda chora algumas vezes à minha frente… Se me parte o coração? Claro que sim! Mas sei que nunca aquele choro foi de tristeza ou de desrespeito da minha parte por ele. E no fundo, ambos, sabemos que tudo o que vivemos em cada sessão da nossa terapia é para o objectivo comum de todos: o desenvolvimento, autonomia, bem-estar e felicidade do T.
(Agora, se o T estivesse aqui, fazia-lhe as cócegas no pescoço que ele adora e que o transforma no bebé mais lindo de sempre com aquela gargalhada única!)
Da última vez que fomos a Vila Verde para a avaliação do T pelo Método Glenn Doman, foi impossível conter as lágrimas, porque trabalhámos tanto durante este ano, o T esforçou-se tanto, o empenho dos pais e familiares foi tanto, a dedicação foi tanta de todos, que se tornou impossível não viver a mil por cento aquela vitória de todos, mas sobretudo do T.
O respeito pelos tempos do T, pelo desenvolvimento individual dele e o trabalho em equipa de profissionais, pais e toda a famíla são, sem qualquer dúvida, os ingredientes essenciais para tanto sucesso e acredito que assim continuará a ser pela vida fora do T. Mais dias difíceis e exigentes poderão vir, com muito trabalho, mas com eles também mais vitórias e alegrias chegarão. Tenho a certeza, T.
Ana Filipa Silva