O filho perfeito

O mês de Maio sempre foi um mês especial para mim.

Frequentei a primária num colégio católico e lembro-me o quanto era especial para mim esse mês. Todos os dias sem excepção, as manhãs começavam na igreja a rezar o terço. E eu adorava todo aquele ritual (devia ser a única...)

Afinal Maio, é o mês de Maria. A Mãe de todos nós.

Hoje gosto em particular deste mês porque considero que também me pertence, pois também sou mãe .
Todas as mães gostam dos seus filhos sem igual, e eu não sou excepção, é por eles que o meu coração treme e que bate mais forte.

Nunca mais me esquecerei das palavras que a médica me disse quando estava a despistar a suposta T21 "Ouça Mãe, Se pudéssemos  escolher filhos por catálogo não era este que escolheríamos". Confesso que não tive resposta para tamanha barbaridade. Só conseguia pensar, como era possível estarem a dizer isso do meu filho, recusava-me a aceitar o "luto" que queriam que eu fizesse pelo meu filho que estava ali cheio de vida, com o seu coração tão pequenino a bater. Apertei a sua mão e disse-lhe bem baixinho "não importa o que as pessoas possam pensar, para mim és o filho que sempre sonhei, e por ti desbravarei caminho". 

Dois anos depois posso afirmar em voz alta, afinal aquela médica tinha toda a razão, se pudesse escolher jamais escolheria alguém tão perfeito como ele.

O T ensinou-me a olhar para a vida com outros olhos, com outra intensidade e a valorizar as pequenas conquistas como se de grandes se tratasse. Têm o melhor que se pode querer de uma pessoa, a sua sensibilidade inata e perspicácia.

Essa mesma médica disse-me que o "T nunca seria médico ou engenheiro", possível, não sei, mas também não posso garantir que o Baby FM o será. Eu própria não sou e a a maioria da população também não, por isso não consigo perceber o porquê de achar que só os médicos e engenheiros é que têm direito à vida...

Talvez pela ordem de ideias a maioria da população não devesse ter nascido. Mas acredito que assim a sociedade seria doente, sem diversidade, sem piada e sem vida pois somos todos nós com as nossas diferenças que construímos o mundo.

Infelizmente sinto que muitas vezes acabamos por estrangular os nossos filhos com esses padrões ditos perfeitos, proibindo os nossos filhos de viverem, de se desenvolverem ao seu ritmo, tudo em prol de uma perfeição que acredito que não exista.

Todos os dias olho para os meus filhos e aceito as suas valências e fragilidades tais como são pois para mim eles são perfeitos tal como são.

E se hoje me dessem a escolher, uma coisa tenho a certeza jamais iria conseguir escolher estes dois filhos, pois nunca iria escolher filhos tão perfeitos como eles.