Ser Psicólogo: Olhar de dentro para fora

10.1.18


Quando pensa na palavra psicólogo, qual é a primeira ideia que lhe vem à mente? E o que sente relativamente a essa palavra que surge? Encara como positiva ou como negativa? Ou nem uma coisa nem outra?

Ainda que estas crenças estejam em gradual transformação, a palavra psicólogo normalmente está associada a “algo que não está bem”, a “problemas” ou “onde vai quem está desequilibrado” e, consequentemente desperta em nós sensações negativas, as quais por norma nos fazem querer algum distanciamento.

E se fizermos a uma criança a mesma pergunta, qual será a resposta? Será a mesma palavra e a mesma sensação que surge nos adultos?

Provavelmente, as respostas das crianças serão qualquer coisa como “é onde faço jogos e converso”, “é muito divertido, posso fazer e falar tudo o que me apetecer…” ou então “é onde vou para conseguir portar-me melhor na escola e em casa”, associando, portanto, a ideia de um psicólogo a sensações positivas, de bem estar e de evolução.

Foquemo-nos nas crianças, todo um mundo simples e complexo ao mesmo tempo, constituído pela dimensão física, social, cognitiva e emocional… De todas estas dimensões, a física é aquela que é mais facilmente observável desde a gestação. Na gravidez, todos os aspetos do desenvolvimento físico do bebé são medidos e avaliados, e assim continua ao longo da vida. É normal ir-se ao pediatra avaliar se o bebé ou a criança está a crescer, se tem o peso certo, se ouve bem, se vê bem, etc., e para isso não é necessário que haja alguma dificuldade ou problema associado. Esse acompanhamento permite aos pais sentirem uma segurança e um conhecimento maior do desenvolvimento dos seus filhos e perceberem se as condições que lhes proporcionam são adequadas ou se é necessário fazer ajustes. O pediatra é encarado como um parceiro na descoberta do desenvolvimento das crianças.

E quanto às restantes dimensões das crianças e jovens? Que cuidado e atenção lhes damos? Como acompanhamos e monitorizamos o seu desenvolvimento? Como sabemos se o mundo interior dos nossos filhos está a crescer saudável e dentro dos “percentis”?

Por norma, essa avaliação é feita empiricamente, pelos próprios pais e família, pelos amigos, pela educadora e professora, que muitas vezes usando a comparação com outras crianças da mesma faixa etária, de várias formas dão feedback sobre como sentem as nossas crianças: “a Maria é uma criança muito sociável e feliz”, “o Francisco faz muitas birras, isso já não é normal na idade dele”, “O Pedro é uma criança muito esperta e perspicaz”, “A Sara não acompanha os colegas nas brincadeiras, isola-se muito”.
Estas avaliações são feitas com base na experiência e servem como indicadores para a pessoa que avalia de que as coisas estão ou não no caminho esperado para determinada faixa etária. Assim como como uma mãe percebe se o seu filho está ou não com febre e quando pela experiência identifica a causa do sintoma, sabe qual o remédio certo para aquela situação.

Contudo, no que diz respeito ao mundo interior das crianças, nem sempre é fácil identificar a causa do sintoma, nem muitas vezes, o sintoma. Quanto ao remédio, esse é por norma o mais difícil de acertar. O que resulta com uma criança, não resulta necessariamente com outra.

É muitas vezes neste processo, que o psicólogo é procurado pelos pais e familiares, na esperança que, com uma varinha mágica, consigam diminuir as intermináveis birras, o desrespeito à autoridade ou a tristeza, a desmotivação e anseios perante a escola.

Tal como o pediatra e outros especialistas, o psicólogo pode ser um parceiro fundamental no desenvolvimento das crianças. E para isso, não quer dizer que algo esteja errado ou que haja um problema. Podemos simplesmente estar a querer ser pais mais conscientes e interessados em entender o processo de crescimento dos nossos filhos, perceber o mundo através dos seus olhos.



Em gabinete costumamos dizer que se os pais procurassem mais vezes e mais cedo um psicólogo, muitas das nossas crianças, jovens e adultos não chegavam sequer a visitar-nos.



Na psicologia, sendo a ciência que estuda a mente e o comportamento humano, há diferentes especialidades ou áreas de intervenção desde a psicologia clínica, à psicologia forense ou do desporto, entre outras. Esta variedade de áreas é o reflexo da complexidade da mente humana, que de facto é uma estrada com diversos caminhos. E no que diz respeito às crianças e aos jovens, para descobrir estes caminhos é preciso tempo, confiança e muita colaboração entre os diferentes intervenientes na sua formação.

Mensalmente, iremos abordar temas subjacentes à Psicologia Educacional ou da Educação, que tal como o nome indica, estuda, os processos ligados à educação, ao desenvolvimento e à aprendizagem. Como aprendemos e nos (re)educamos durante toda a vida, esta vertente da psicologia poderá fazer sentido em diversas faixas etárias.
São os pais de crianças e jovens em idade escolar (dos 3 aos 18 anos) que mais procuram um psicólogo educacional, seja para ajudar os filhos numa determinada fase, ou devido a um sintoma que normalmente se destaca na entrada para a escola. Todavia, é desde o momento em que um casal decide ter um filho que a intervenção de um psicólogo pode fazer a diferença.

Acreditamos que não existem receitas perfeitas nem varinhas mágicas para uma boa educação, podemos questionar-nos até, sobre o que é isso de uma boa educação?!

Cada pai e mãe terão respostas diferentes para esta questão, mas aqui no Regras com Amor, acreditamos que estes dois ingredientes não podem faltar para que as crianças cresçam felizes e saudáveis emocionalmente.

Este separador pretende ser uma oportunidade de partilha e de reflexão sobre vários temas e estratégias que poderão ajudar os pais ou cuidadores nesta missão maravilhosa e desafiante que é educar. Quem sabe também, para algumas crianças e jovens que se interessem pelo seu papel igualmente especial e importante que é ser filho.

Sejam bem vindos e tornem vosso, este nosso espaço…

Com Regras e com Amor,

A vossa psicóloga,

Ana Trindade


3 comentários:

  1. Bom dia! Obrigado pela introdução desta rubrica, ficarei ansiosamente à espera destes tópicos!
    não é nada fácil equilibrar amor e disciplina. Não é nada fácil gerir por exemplo o divórcio e a reconstrução de uma nova família, focando-nos no bem-estar da criança em primeiro lugar. Educar é um grande desafio, luta, uma grande responsabilidade... uma bênção também, cabe a nós pais dar o nosso melhor!

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    1. Sem dúvida... é um grande desafio. Porque tudo o que possamos fazer vai ser exemplo para os nossos filhos, seja bom ou mau. Também tenho a certeza que esta rubrica nos vai ajudar bastante!! ❤️

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  2. Iniciativa ótima �� fico há espera do próximo tema�� e já agora gostaria de colocar uma questão à doutora Ana sobre como devemos lidar com o hábito de morder?? Confesso que estou a passar por essa fase terrível com o meu filho e as opiniões dos outros são imensas mas o que mais me preocupa é realmente o meu filho...saber o porquê que ele o faz e como contornar isso para que não o faça?? Seria um bom tema para a vossa rubrica...beijinhos

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