Não faz mal ser diferente

15.3.18


“Não faz mal ser diferente. Tu és especial e importante por seres quem és” 
 (Todd Parr)

Somos quem somos devido a um conjunto de vários fatores tais como o nosso nome, o país em que nascemos, a etnia, o nosso género, a nossa orientação sexual, a nossa genética que define a nossa altura, a cor dos olhos, a cor do cabelo, a cor da pele, a forma como nos movimentamos. Somos o que somos pelo contexto em que crescemos, o que vestimos, o que comemos, o que gostamos de fazer, os sítios onde gostamos de ir, aquilo que dizemos, sentimos, pensamos e fazemos. Somos quem somos pelas oportunidades e pelas experiências que colecionamos desde o período da gestação. Somos quem somos entre as nossas capacidades e dificuldades.

É na primeira infância (desde o nascimento até aos 6 anos de vida), que a estrutura da personalidade de uma criança é construída com a ajuda dos seus principais cuidadores (pais, familiares próximos e educadores de infância). Até esse momento as crianças observam os adultos que a rodeiam, absorvendo cada detalhe daquilo que dizem e que fazem. É nesta fase, até cerca dos 8 anos que as crianças constroem a sua visão de si próprias, dos outros e do mundo. É também nesta etapa que os alicerces são construídos e que ficarão para a vida. E é principalmente também durante esta fase que as crianças merecem e precisam de ser nutridas de afeto, de segurança e de reconhecimento por aquilo que são, não podendo haver espaço para dúvidas de que são seres únicos e especiais. Todas as crianças o são, sem exceção, independentemente da cor da sua pele, do seu grau de saúde, da roupa que vestem ou do contexto em que estão inseridos. É nesta diversidade de seres que nascem as comparações feitas, inicialmente pelos pais e familiares, e que posteriormente têm impacto na formação da personalidade das crianças e na forma como interagem entre si e consigo próprias.

Desde bebés que as crianças tendem a ser comparadas entre si pela sociedade: os que dormem bem e os que dão noites más, os que começaram a andar antes de completarem um ano e os que aos dois ainda se arrastam no chão, os que já falam e os que parecem não querer dar o ar da sua graça, os que crescem numa família tradicional e os que cujos pais se separaram e que têm agora duas casas, os que comem carne e os que são vegetarianos, os que usam roupa e equipamentos eletrónicos de marca e os que não, os que já sabem as letras e os que só gostam de brincar na escola, os que agem de acordo com o que o adulto espera, e os que fogem das expetativas, os que se portam mal e os que “não dão trabalho nenhum”, os que são “normais” e os “outros”. As crianças crescem, neste vai e vem de informações, integrando a ideia de que uns são bons e os outros são maus, e que uns são mais importantes do que os outros. 




Podemos ainda acrescentar um grau de diversidade mais específico, tal como as crianças com algum tipo de deficiência ou problema de saúde físico ou mental, que muitas vezes, pelas suas características são excluídas do ambiente escolar ou social, quer por não haver respostas adequadas para elas, quer pelo constrangimento sentido pelos próprios pais em colocá-los em locais em que os seus filhos possam sentir ou acentuar as suas fragilidades.

Assim, é muito comum observar-se uma baixa auto estima (o grau em que gostamos daquilo que somos) desde muito cedo nas crianças e que muitas vezes atinge o seu expoente máximo na adolescência, levando os jovens a refugiarem-se em comportamentos desajustados. Se pensarmos na idade adulta, observamos um padrão de comportamento muito semelhante na maioria das pessoas, tentando corresponder ao que é esperado pela sociedade, ao que é considerado “normal” e dentro dos limites definidos pela mesma, mesmo que isso lhes custe a sua felicidade e realização pessoal.

Refletimos aquilo que somos nos nossos atos e palavras, os quais as crianças, absorvem desde meses de idade, repetindo posteriormente os padrões que lhes são passados. Se uma criança ouvir os adultos à sua volta dizerem que as pessoas de pele negra são más, como acha que essa criança se irá relacionar com uma criança negra que possa um dia conhecer? E se ouvir os adultos dizerem que as crianças com deficiência deveriam estar num sítio “próprio para elas”, como irá a criança perceber a importância e a oportunidade de crescimento de poder conviver na escola com um colega autista? E como se irá sentir uma criança cujos elogios vão todos para o seu irmão, que já sabe ler e escrever, porque por acaso consegue não trocar as letras?

Gerir as expetativas que se se tem relativamente a um filho é um desafio com o qual todos os pais são convidados a lidar. Uma criança quando nasce, traz consigo mil e uma oportunidades e virá ocupar o seu lugar no mundo, um lugar único e que será irrepetível. Ainda que um filho possa não ir exatamente ao encontro do que os pais e a família projetaram, é importante recordar que:
  • Cada criança tem direito à sua individualidade e à sua expressão
  • Cada criança tem potencialidades e dificuldades que devem ser reconhecidas e atendidas
  • A empatia é algo que se ensina e que faz crescer
  • As suas palavras e os seus atos têm eco nos seus filhos: limpe a sua mente de vocabulário negativo e pré conceitos em relação à diversidade, deixe o seu filho descobrir por si…
  • O “certo” ou “errado” pode ser definido por cada família
  • A felicidade e o bem estar do seu filho vêm do seu amor e da sua aceitação por ele
  • Não faz mal ser diferente e todas as crianças merecem sentir isso
As crianças não são ilhas isoladas, partilham a sua vida com uma diversidade enorme de outras crianças. Descobrir o que podem aprender com cada uma, pode ser uma experiência maravilhosa… Saberem colocar-se no lugar do outro irá torná-los em seres humanos capazes de muito mais e melhor… E o mundo precisa disso!

Com regras e com amor,

A vossa psicóloga

Ana Trindade


Livro de recomendação para crianças até aos 7 anos: “Não faz mal ser diferente” de Todd Parr

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