A Escola dos "grandes"

20.6.18

O sistema educativo português oferece um ensino gratuito a partir dos três anos de idade, dando-se início ao ensino pré escolar. Este período sério de aprendizagem através da brincadeira e do desenvolvimento de competências motoras, linguísticas, emocionais e sociais, representa uma fase de muita importância, se não a mais importante, no desenvolvimento socioeducativo de uma criança. É neste período que se lançam as sementes que depois irão florescer ao longo do percurso escolar e educativo das crianças.

Aos seis anos em Portugal, sete, noutros países, tal como a Finlândia, as crianças integram o primeiro de quatro ciclos de escolaridade obrigatórios, segundo a lei atual portuguesa: 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básicos e o ensino secundário. Nesta fase, supostamente a criança atinge a maturidade cerebral que a permite avançar nos conhecimentos que se irão tornar cada vez mais complexos e abstratos e também deverá ter uma maturidade emocional para lidar com a resolução de problemas, a gestão da frustração, o autocontrolo e a autonomia que a entrada para a escola exige.

Neste sentido, quer a entrada para o jardim de infância (creche), quer para o primeiro ciclo são momentos vividos com alguma ansiedade e preocupações para os pais que, consequentemente, pode ter impacto nas crianças. São períodos de decisão difíceis, em que é exigidos às crianças e aos pais um corte com uma certa zona de conforto e de controlo relativamente à sua educação e desenvolvimento.

Contudo, a boa notícia é que, por norma, com quanto mais naturalidade estas etapas forem vividas, maior é a probabilidade de as coisas correrem bem. Como é natural, há sempre um período de adaptação para todos (crianças, pais e restante família, educadores e professores, etc) que deve ser respeitado.

Por esta altura, várias são as famílias que estão perante esta tomada de decisão: Os pais das crianças de 2/3 anos que têm tido o privilégio de estar em casa com os avós, amas ou outros familiares que se questionam se estará no momento do seu filho conviver com outras crianças num ambiente de aprendizagem e de estimulação cognitiva, que é sempre diferente daquela que se tem no contexto familiar (a não ser que o cuidador da criança tenha formação pedagógica e desenvolva essas competências, tal como acontece no ensino doméstico, sendo este uma opção cada vez mais procurada por famílias portuguesas), assim como o caso das crianças com 5/6 anos que pela sua idade poderão estar em situação de matrícula no 1º ano de escolaridade. À partida, qualquer criança que faça 6 anos até ao dia 15 de Setembro do ano letivo que inicia, estará em condições de se matricular no 1º ciclo. Os alunos que celebrarem o seu aniversário após essa data, poderão ou não optar pela matrícula no 1º ano, sendo que no caso da inscrição, existe o risco de não conseguirem vaga, uma vez que são alunos condicionais, não sendo considerados como prioritários. Neste caso, será importante realizar a matrícula em mais do que um estabelecimento de ensino, e simultaneamente no jardim de infância, para que possa ter sempre uma vaga garantida no ensino público.

Foquemo-nos na entrada para a segunda “Escola dos Grandes” (1°ano):

Como saber se é o momento certo?
A resposta está inteiramente no seu filho. Cada criança é única e especial, sendo importante conhecê-la nas suas diferentes dimensões e para isso, por vezes é importante recorrer à opinião da educadora, dos médicos e outros técnicos que acompanham a criança, assim como à opinião dos familiares próximos e atentos ao desenvolvimento da criança. A decisão será sempre sua, mas não se esqueça que conhece o seu filho enquanto filho, mas que também é importante ter uma perspetiva da criança noutros papéis sociais, nomeadamente enquanto aluno. A educadora pode ser uma grande aliada nesta tomada de decisão, tendo um conhecimento aprofundado das dimensões cognitivas, sociais e emocionais da criança. Estas três dimensões envolvem competências tais como: a motricidade, a linguagem, o raciocínio, a atenção, a memória, a resistência à frustração, a persistência na tarefa, o conseguir controlar os seus impulsos, a autonomia, a socialização, entre outras.

Como se vê, são precisos vários requisitos para que a entrada para a escola possa ser feita com alguma segurança, no entanto, nem todas as crianças atingem os mesmos patamares na mesma altura nem da mesma forma, sendo, por isso, importante conhecer bem a criança e sobretudo não ter pressa de saltar etapas nem que ela cresça depressa ou devagar demais. Respeitar o ritmo do seu filho pode ser uma importante aprendizagem e, geralmente, é sempre a decisão mais acertada.


O que muda na entrada para a escola?

O espaço normalmente é uma mudança de peso na entrada para a escola. Muitas vezes é dentro do mesmo recinto onde a criança frequentou o jardim de infância, contudo, o edifício muda assim como a própria imagem da sala de aula. A principal diferença, na maioria das escolas, é que de uma disposição de mesas em grupo, passa-se para mesas individuais ou a pares, o famoso tapete e os adorados cantinhos de brincadeira desaparecem para dar lugar a móveis de organização para os livros e cadernos escolares. No ensino tradicional, a sala passa a ser um lugar de trabalho em que os brinquedos ficam apenas a assistir, tendo a brincadeira lugar apenas no recreio, que parece sempre pouco para a energia que há para gastar. Pode ser importante fazer uma visita com o seu filhos, à escola/instalações novas para que o conhecimento prévio do espaço possam trazer maior segurança para todos.

Na maioria das escolas os horários são mais rígidos relativamente ao jardim de infância e as orientações das escolas regem-se pelo estatuto do aluno que prevê aspetos tais como as faltas, a (in)disciplina, a participação do encarregado de educação na vida escolar do aluno, etc. Seja um modelo para o seu filho relativamente ao respeito a ter pela instituição escolar e pelo direito de aprender: respeite os horários, faça um esforço por entender as regras e normas da escola, passando essa mensagem ao seu filho, reforçando sempre a importância da figura do professor.

Os conteúdos pedagógicos alargam-se e aprofundam-se. São solicitadas cada vez mais competências às crianças para que possam acompanhar um currículo que por vezes vai para além do que é possível exigir ao cérebro de uma criança. Todavia, a possibilidade de evolução e a sensação de progresso é das sensações melhores que se poderá dar a uma criança em idade escolar. A partir de agora, poderão ser elas a ensinar os adultos certas coisas que estes há tanto tempo já se esqueceram. Isso traz-lhes uma sensação muito grande de eficácia e de importância. Permita que o seu filho fale consigo e lhe mostre o que aprendeu, reforce o quão importante é cada aprendizagem e faça um elogio por cada vitória alcançada.



No caso de haverem dificuldades de aprendizagem, antes de colocar rótulos, comunique com a professora para que juntos possam encontrar estratégias e soluções para que as dificuldades sejam superadas. Lembre-se que dificuldades todos temos e que as podemos ultrapassar com treino, paciência e com o encorajamento dos que nos rodeiam e acreditam em nós.

Os trabalhos de casa são também uma novidade relativamente ao jardim de infância, ficando ao critério de cada escola/professor a gestão pedagógica desta medida. Tal como em tudo, deverá haver um equilíbrio e uma adaptação às necessidades de cada criança, sendo que a escola e os pais deverão ser sempre fatores de incentivo e promotores de saberes, fomentando a curiosidade e a motivação das crianças.

Muitas vezes o momento dos trabalhos de casa é vivido como um momento de tensão. De forma a antecipar essa situação, no início do ano, faça em conjunto com o seu filho um mapa de tarefas onde devem estar incluídas todas as tarefas da criança durante o dia, sem esquecer as horas de descanso, as horas de trabalho, de lazer, e as tarefas domésticas, que devem começar a ser postas em prática de forma a desenvolver a autonomia e a responsabilidade. Acima de tudo, sinta o seu filho, perceba se descansa bem, se anda muito cansado, evite coloca-lo em muitas atividades estruturadas, para que possa também ter tempo de descanso e para ser criança.
O material escolar começa a ser da responsabilidade da criança. Façam as compras do material em conjunto, definindo limites nos valores e nas quantidades. Fale com o seu filho sobre a utilização responsável dos materiais, e a sua gestão ao longo do ano.

Inicialmente a criança precisa de ajuda para a organização e manutenção do material, sendo muito importante um controlo diário da sua parte em relação à mochila e a todo o material necessário. A criança não ter material ou ter a mochila desorganizada, poderão ser fatores de destabilização para a sua aprendizagem.

Expetativas e Ansiedades

Geralmente as expetativas e as ansiedades, surgem dos pais, refletindo-se nos filhos. Como todas as mudanças, os medos e as preocupações são normais, no entanto, as crianças devem ser protegidas de algumas verbalizações dos pais relativamente a esta fase e em relação à própria escola. Basta que a criança oiça uma vez que os pais estão com medo que as coisas não corram bem, ou que ele não vai ser capaz de “dar conta do recado”, ou que “não gostam da escola ou da professora”, para que isso tenha impacto nas crianças e possa influenciar o seu desempenho escolar.

O que é importante que chegue à criança são frases de incentivo, de tranquilidade e de uma perspetiva positiva sobre a fase que ela irá viver em conjunto com a família. Caso aconteçam coisas com as quais não concorda, é importante que as esclareça junto dos órgãos responsáveis da escola para que possam ser resolvidas, não alimentando esse desconforto ou desagrado junto da criança.

É importante também que separe o seu percurso escolar do percurso escolar do seu filho e que faça a gestão das expetativas que tem relativamente ao desempenho do seu filho. Dizer que “nunca foi bom aluno a matemática” ou que era o melhor aluno a Inglês, poderá passar uma mensagem ao seu filho de desinvestimento ou de pressão perante essas disciplinas. Pergunte-lhe que disciplinas ele gosta mais de aprender, quais as que sente maior dificuldade e porquê e sente-se um bocadinho perto dele para que ele lhe mostre como é bom na tabuada ou para que se possa sentir mais seguro em ultrapassar as suas dificuldades.

Reflita se é mais importante que o seu filho seja o melhor aluno, ou se, prefere que ele seja um aluno melhor e mais feliz.

Ter uma postura atenta mas não ansiosa, no dia a dia é o suficiente para prevenir determinadas situações.

Todavia, algumas crianças manifestam a sua ansiedade sintomatizando dores de barriga, dores de cabeça, febres,etc., de forma a evitarem ir à escola. É importante identificar a causa desses sintomas, articulando sempre com a professora, e caso necessário, pedir ajuda especializada de um psicólogo. Existem algumas estratégias para que estes sintomas possam ir desaparecendo, sendo que permitir que estas fugas da escola aconteçam não é a melhor opção. Nos primeiros tempos pode ser importante, dar ao seu filho um objeto seu como um “amuleto” da sorte, de forma a que ele possa recorrer para se sentir mais seguro e protegido.

Uma escola para a vida…

A entrada para a escola é um marco muito importante na vida de qualquer criança. É o inicio de vários desafios, de começar a ler e a conhecer o mundo, a pensar pela sua própria cabeça, a questionar e a poder contribuir com algo de si. É o tempo em que as crianças percebem que não vamos todos ao mesmo ritmo e não caminhamos todos da mesma forma, e que isso por vezes é chato e injusto, mas que também pode ser uma oportunidade de trabalharmos em nós valores como a tolerância e a solidariedade.

Mais importante do que esperar as melhores notas escolares, é demonstrar ao seu filho que espera que ele dê o seu melhor em cada momento, aceitando que as fragilidades e as dificuldades também fazem parte do percurso e que está lá para ajudá-lo a superá-las.

Mais importante do que o sucesso escolar, será sempre a construção da criança como ser humano, no desenvolvimento de competências como a autoconfiança, a persistência, a calma, a empatia, a amizade, a tolerância e o respeito pelos outros.

Estas são as competências que ficarão para a vida, independentemente das escolhas académicas e profissionais que fizer…

Com Regras e com Amor,

A vossa psicóloga

Ana Trindade




Livro de recomendação para crianças a partir dos 3 anos, “ A Escola” (Malou Adam), Editorial Presença

1 comentário:

  1. Adorei o texto,moro na Irlanda e por falta de conhecimento do sistema de ensino cai na asneita de a colocar na escola aos 4 anos nos Júniores infantis, pensava eu que era como na creche em Portugal, mas afinal eles estae sentados 4 horas numa cadeia a dar matéria e com avaliação final, este ano está na first class é teve 2 semanad completas de testes, ela ja andava a desesperar com a pressão comecco a roer as unhad, não queria ir ad actoactividades fora da escola porque se sentia muito cansada. No meio de tudo isto acabei por me sentar com ela e explicar lhe que se alguma coisa não corresse bem não havia problema o importante mesmo é ela tentar fazer sempre, mas que nós estamos cá para lhe dar apoio e a ajudar nas dificulfadas que ela possa ter. O mais novo fez agora 4 e vou mante-lo mais um ano na creche, primeito porque ele fala ppuco, mas mesmo que falasse muito acho que tal como a irmã nao tinha ele também não tem maturidade suficiente. O que eu transmito a quem diz que eu protejo muito os meus filhos respondo sempre que nao quero ter as crianças mais inteligentes do mundo em casa mas sim crianças felizes, que saibam respeitar os outros é que sejam humanos, só assim poderão se adultos felizes e realizados. Não sao eles que têm de andar ao nosso ritmo, somos nós que temos de respeitar o tempo deles, na minha opinião.

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