Tinha tomado a decisão mais difícil que alguma vez tinha tomado mas estava certa que era o acertado.
Fui contra muitas opiniões, fui contra tudo e todos e até contra mim mas estava certa da minha decisão.
Quando recebi o email da escola sobre a praia, inscrevi o T mesmo sabendo que passaria por uma semana em que tinha marcado férias.
Respirei, pensei muito e ainda discuti mais sobre o assunto. O T ficava e eu ía. O T fazia a praia com os seus amiguinhos e à tarde mantinha as terapias.
E eu teria uma semana para me dedicar ao FM como até agora nunca o tinha feito. Queria tê-lo só para mim, queria que ele fosse o meu centro de atenções porque também lhe devo isso.
É aqui que entra o desafio dos pais quando temos mais que um filho, a partilha de atenção não é fácil e por mais atentos que sejamos nunca chegaremos ao centro da questão por mais que nos esforcemos. E não é porque somos melhores ou piores pais mas porque somos humanos e não vivemos apenas no "um para um" temos sempre muita coisa a acontecer à nossa volta.
Para mim era a oportunidade perfeita! Uma semana de filho único, uma semana só nossa.
Desde a minha decisão que me mentalizava que era o melhor para mim, para o T, para o FM, para a nossa família.
O B como não conseguia tirar esta semana de férias, o T ficaria com ele e assim seria ele a comandar a nossa casa, o que também achei óptimo para que ele também percebesse como tudo funciona, não que ele não saiba mas como acabo por ter mais disponibilidade de tempo, há coisas que acabam por passar despercebidas.
Era tudo perfeito! Mas era só eu que o achava até ao dia da despedida...
Desde a minha decisão até ao dia de viajar passou um mês e meio e nesse tempo falei com várias pessoas sobre a minha decisão, agora percebo a minha necessidade em falar tanto no assunto, a cada pessoa que falava era como se tivesse a programar o meu cérebro para a nossa separação.
Entretanto chegou o dia de fazer as malas e continuei sem vacilar, um pouco assustada a passar todas as informações necessárias ao B mas nada de mais.
Até que fecho as malas e é agora. Olho para o T e explico-lhe que a mãe vai ter de ir com o mano e que ele ficaria com pai. Baixei a cabeça, o meu coração tremeu, dei-lhe um abraço. Mas segui sem frente...
A porta de casa abre-se e ele olha para mim e diz "praia, praia" e dá-me um grande abraço. Uma vez mais baixo a cabeça e tinha-o ali de volta nas minhas pernas, malas feitas ao meu redor, uma porta aberta, e eu de cabeça baixa sem coragem para a erguer.
Enquanto tive a cabeça baixa vacilei, meti tudo em causa tudo e comecei a chorar compulsivamente e disse que não aguentava deixá-lo, o B que estava a assistir a todo aquele cenário abraçou-me de lágrimas nos olhos e chorámos, ainda a soluçar disse-lhe que não aguentava ir sem ele e que levava-o comigo.
O T no meio daquilo tudo olhou-me nos olhos e sorriu para mim. Foi buscar os seus sapatos e só gritava "praia, praia, praia".
As malas estavam só pensadas para mim e para o FM e naquele momento em dez minutos, peguei nas primeiras roupas que me apareceram e enfiei dentro da mala. Com perfeita noção que não tinha roupa igual para eles e que havia coisas que ficariam pois no meio de tanta emoção não havia tempo para "futilidades".
Mas o mais importante eu levava comigo. Tudo o resto era simplesmente desnecessário.
No carro, já com eles, senti a fragilidade do B e minha também por nos separar. Não era o ideal mas aqui não havia volta a dar pois ele não conseguia mesmo ir.
Ficou a trabalhar e nós fomos!