Mas por mais perguntas que me façam as respostas são sempre as mesmas.
Primeiro, eu e o meu marido merecíamos viver a maternidade em pleno, algo que nos foi roubado no nosso primeiro filho. Segundo porque nunca em momento algum senti medo, a trissomia do T era livre não havia nenhum motivo aparente para o seu cromossoma mais por isso as probabilidades mantinham-se iguais às da primeira. Depois porque também só existe um caso no mundo em que voltou a acontecer e por fim porque o medo nos impede de sermos felizes!
E foi com esta linha de pensamento que mergulhámos às cegas neste segundo filho, que se veio a chamar Francisco Maria.
Uma gravidez tranquila, sem medos, mas que me deu mais margem de pensamento para tudo o que pudesse correr mal e se houve coisa que aprendi na primeira gravidez foi a ter uma maior consciência para tudo o que pudesse fugir ao planeado.
Um parto induzido, deu-me margem para pensar mais sobre o assunto e desejar loucamente olhar para ele assim que saísse dentro de mim.
No momento em que nasceu foi um amor imediato, sem medos, com o verdadeiro amor à primeira vista, algo que me tinha sido roubado no dia 6 de Agosto de 2014.
Naquele momento éramos só nós, tudo o resto tinha deixado de fazer sentido, tê-lo nos meus braços de uma forma tão simples e descomplicada foi dos momentos mais incríveis que alguma vez senti.
Algo que para muitos é tão banal e que para mim era tão importante.
Recordarei para sempre a nossa primeira noite, em que eu não desgrudei um segundo dele, em que lhe peguei vezes sem conta só para lhe tocar e cheirar. Do outro lado do quarto, no cadeirão azul estava o meu marido a olhar para nós e a dizer "realmente é tão diferente do que passámos com o T, é tudo tão simples e tão leve. Agora sei o que é viver o nascimento de um filho em pleno".
Embora estivéssemos muito felizes com o T, havia algo em nós que nos pedia mais, pedia o outro lado, o lado mais simples, o lado sem lágrimas de medo e de sofrimento por algo que não se conseguia apalpar.
Era o outro lado da maternidade que todos os pais têm direito a viver e que nós também o merecíamos.
Não sou corajosa como dizem, apenas sou uma sonhadora nata e sabia que havia muito mais que este lado que me era mostrado, que para ser sincera também não era assim tão diferente, era só mais "complicado".
Quando cheguei a casa, quando a nossa porta se fechou, chorei muito, aí sim eram lágrimas de medo misturados com alegria, era o o descontrolo hormonal a falar mais alto.
Foi o perceber que a minha casa já não era a mesma, que jamais voltaríamos a ser três e que naquele momento seríamos os 4 para toda a vida, a lutar uns pelos outros como os mosqueteiros.
O início foi duro por toda as adaptações que tivemos de fazer ao nosso dia a dia, houve alturas em que achei que tínhamos uma linha de montagem de bebés em casa, eram fraldas por todo o lado, noites sem dormir, doses de colo a dobrar e todo um cansaço sem limites.
Chorei vezes sem conta quando fiquei com eles sozinha, um sem andar e o outro colado a mim como se de uma lapa se tratasse. O T era muito bebé ainda não percebia que a minha atenção tinha de ser desdobrada e para o FM só existia a mãe no seu mundo.
Mas à medida que o tempo ia passando, eles cresciam, choravam e riam juntos e em mim crescia uma paixão por aquela cumplicidade que chegava a emocionar-me.
Hoje são os melhores amigos e venham as tempestades que vierem será um amor para a vida toda. Não duvido nem por um segundo disto! Onde um está o outro está, o que um faz o outro faz em dobro, a primeira palavra que dizem ao acordar e ao deitar é "Tutu" (forma querida que se tratam).
Muitas vezes sento-me bem longe e fico a apreciar toda aquela cumplicidade que cresce todos os dias mais um pouco.
Para eles não existem diferenças, os dois são iguais e quero que se mantenha assim sempre, pelo menos é desta forma que são educados.
Mas ver um filho a puxar pelo outro quando sente que este tem alguma dificuldade como eu já vi por várias vezes, é algo indescritível, não se consegue explicar de tão forte que é.
Recordarei até ser velhinha do dia em que penso que já vos contei aqui, o momento em que o T não queria andar mais (o T tem de andar muito e muitas vezes temos de contrariar o colo) e sentou-se no chão de braços cruzados. Eu estava mais à frente com o FM de mãos dadas e quando olhámos ele estava sentado, o FM largou-me a mão e foi a correr para ele, deu-lhe as mãos, puxou-o e chamou-o vezes sem conta até ele se levantar, não desistiu e só seguiu caminho quando o irmão se levantou. Com muita pena minha não filmei porque estava sem bateria, mas as lágrimas corriam pelo meu rosto lá de longe a assistir a esta noção de entre-ajuda que o FM teve.
São exemplos destes que me fazem ter a certeza que quando decidimos ter outro filho não fomos loucos ou inconscientes. Hoje tenho orgulho da nossa decisão, do dia em que decidimos entregar-nos uma vez mais um outro para o fazer e por sermos pais de duas crianças brilhantes, que todos os dias pintam o quadro da nossa família da forma mais simples.
Não tenham medo pois a sorte protege os audazes! O sonho comanda a vida!
Eu só tive a audácia de sonhar, de lutar pelos meus sonhos e isso tornou-me feliz!
P.s: Sentei-me ao computador para vos escrever sobre o peso que tem uma criança com um irmão com necessidades especiais mas as palavras fugiram-me para aqui.
Prometo escrever-vos em breve sobre isso. Entretanto espero que tenha dado força a quem tem medo de arriscar num segundo filho tenha ou não um filho com necessidades especiais.
Lindo testemunho, como sempre! E linda família! Bem hajam e que Deus vos ilumine sempre! Um beijinho grande
ResponderEliminarObrigada ❤️
EliminarAinda não tinha tido oportunidade de ver este post. Meu Deus como eu me revejo nas tuas palavras. Confesso quando nós decidimos avançar para o segundo filho, fui a medo. Medo que voltasse a acontecer. Não queria voltar a sofrer. Não queria chorar mais... Avançámos também, porque merecíamos a oportunidade de ser pais "normais" e viver o que a maioria dos pais vive com um filho "normal". Atenção utilizo a palavra "normal" no sentido em que o 2º filho não tem qualquer problemática. Obviamente que independentemente da T21 o Tiago para nós é "normal" à sua maneira. Mas creio que me percebes. Costumo dizer que sou uma sortuda porque tive oportunidade de ser mãe pela 1ª vez, por duas vezes :-) As experiências e vivências com um filho com T21 e outro sem, são muito diferentes. Com um filho com T21 a logistica do dia a dia é mais cansativa devido a todas terapias e das suas necessidades, desgastante por um lado, mas ambas as experiências gratificantes sem dúvida. O tema que pretendias abordar acerca do peso que uma crainça tem com um irmão com NEE é pertinente. No teu caso eles ainda são novinhos e FM provavelmente não sente esse peso. No caso dos meus, já adolescente, noto que o meu Henrique de certa forma e insconscientemente sente esse "peso". Mas voltaremos a falar no tema. Beijinhos grandes para vós :-)
ResponderEliminarVerdade... é mesmo como dizes somos mães pela 1vez por duas vezes porque soa realidades completamente diferentes embora super gratificantes.
ResponderEliminarHoje posso dizer que somos umas sortudas por termos o melhor dos dois mundos.
Quanto ao outro texto que vou escrever... acredito que haja esse peso por mais que não queiramos. ❤️
Completamente rendida a este blog, espetacular! 👏👏
ResponderEliminarMuitas felicidades, que a vida lhe sorria muito, pois merece bastante! 😘
Obrigada pelo carinho ❤️
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