Os jogos “mamã dá licença?”, “1,2,3 macaquinho do chinês”, “STOP”, saltar ao elástico, subir às árvores ou jogar ao berlinde, são jogos que acompanharam a infância de quase todos nós. Jogos que nos fizeram sair de casa com a certeza de que seriam horas a fio de risadas e a sensação de que o tempo era curto para quem queria sempre mais. Entre uma apanhada e outra, entre um golo falhado e uma cabeça partida, as amizades iam nascendo, a importância de aprender a esperar e que é no contacto com o outro que nos tornamos mais pessoas. Foi através do aprender a brincar que descobrimos que o mundo pode ser um local divertido para crescer e viver.
O sorriso era o reflexo de um corpo feliz, que parecia nunca cansar-se e que estava em constante exploração e descoberta.
Com o desenvolvimento tecnológico, chegaram as televisões, os computadores, os videojogos e mais tarde os telemóveis Nokia com o famoso jogo da serpente. Jogos estes que entusiasmavam, mas que ainda assim, não substituíam o cheiro da terra e o gosto de uma vitória em equipa. Foi o início de um novo ciclo, de uma nova era que parece não dar tréguas e que tem ganho cada vez mais espaço e impacto no dia a dia de miúdos e graúdos, deixando-os cada vez mais dentro de quatro paredes.
O grande desafio dos pais nesta era digital, é o de promoverem uma educação para a tecnologia junto dos seus filhos, e para isso, é necessário que também eles se reeduquem nesse sentido. Tal como em tudo na vida há vantagens e desvantagens, e o equilíbrio é sempre a forma mais sensata de agir. O que se passa é que hoje em dia tudo acontece dentro dos pequenos ecrãs: trabalha-se, faz-se as compras do mês, comunica-se com pessoas que estão a quilómetros de distância, faz-se novos amigos, obtém-se informação sobre qualquer assunto, ouve-se música, vê-se filmes e pode jogar-se com pessoas que estão na sua casa em qualquer parte do mundo.
Tal como uma peça de roupa, estes instrumentos são acessórios sem os quais já não sabemos viver. Nós e eles. As crianças.
Esta expansão tecnológica tem originado várias reflexões sobre as consequências da utilização das tecnologias no desenvolvimento das crianças e jovens, sendo que apesar de não haver consenso entre os especialistas, tem-se concluído que as novas tecnologias podem ser excelentes aliados no desenvolvimento infantil, desde que o acesso aos aparelhos electrónicos seja mediado de forma consciente pelos pais. Se a criança tiver uma utilização pedagógica e controlada das novas tecnologias, poderá tornar-se membro ativo do seu processo de aprendizagem, podendo aprender sobre o que quiser. Acredita-se que o acesso às novas tecnologias estimula a leitura, aumenta o vocabulário e o conhecimento sobre o mundo. Fala-se também, no desenvolvimento cognitivo, com impacto na inteligência. Todavia, Álvaro Bilbao, neuropsicólogo, autor do livro “o cérebro das crianças explicado aos pais”, incita os adultos a uma reflexão sobre o seu próprio uso das novas tecnologias; "Usamos 'smartphones há alguns anos. Quantos de nós se notam mais inteligentes por isso? E, agora, quantos de nós se sentem menos pacientes?".
No que diz respeito à parte lúdica, o facto de as crianças e jovens poderem repetir os jogos e melhorarem a sua performance, dá-lhes uma sensação de controlo e de domínio, e consequentemente um sentimento aparente de segurança.