Ontem tive oportunidade de crescer como pessoa e como mãe.
Fui convidada pela Comissão Europeia, no âmbito da iniciativa InvestEU para conhecer o Kastelo, a primeira unidade de cuidados paliativos e continuados pediátricos da Península Ibérica.
Este grande projeto foi criado pela Enfermeira Teresa Fraga. Uma pessoas altruísta, que vestiu a camisola da forma mais profunda que existe, não se resumindo apenas às obrigações e deveres da sua profissão indo muito mais além, juntamente com a Comunidade Europeia, com 77 messenas (empresas) e com os Portugueses construiu um projeto feito de AMOR!
E foi graças à Comunidade Europeia que se conseguiu erguer uma casa abandonada numa casa para todas as famílias com filhos com doenças crónicas.
Acho que nunca conseguirei passar para o papel o que vi e o que vivi ali. Foi uma hora e meia que mais pareceu um dia tal foi a intensidade.
Acho que nunca conseguirei passar para o papel o que vi e o que vivi ali. Foi uma hora e meia que mais pareceu um dia tal foi a intensidade.
Trouxe comigo aquelas crianças no coração, foi tão forte, que pouco ou nada dormi esta noite, só a pensar em como a nossa vida pode transformar-se em segundos.
Vim de coração cheio, não pela realidade que encontrei mas por todo aquele projeto humano. Nunca vi condições iguais àquelas, um lugar que tinha tudo para ser triste não o é, ali respira-se vida, dedicação, entrega e um esforço humano fora de série.
Cruzei-me com terapeutas com um brilho especial no olhar, sentia-as felizes e realizadas. Com mães com olhares tristes, daqueles que se sente que a vida lhes fugiu das mãos mas com a garra e força necessária para continuarem em frente, a lutar pela dignidade dos seus filhos.
Vi um Pai a tocar viola para a sua filha, olhando-a nos olhos e com uma dor profunda por ver a sua filha presa à vida. Jamais esquecerei este olhar. Que olhar...sabes daqueles que vêm do coração...
O olhar deste pai... |
Para o Kastelo não existem deficientes mas sim pessoas diferentes e tudo o que se faz ali é com esta visão.
Uma realidade que ainda é tabu na nossa sociedade, que fazemos questão de fingir que não existe e quando nos cruzamos com ela chamamos-lhe de "coitadinhos". O que para mim, são tudo menos isso, são crianças e jovens que merecem que lhes olhemos nos olhos sem penas e que acreditemos no seu potencial mesmo que aparentemente não apareça que existe possibilidades.
Aquelas famílias merecem ser respeitadas, encorajadas e não "marginalizadas" pela diferença porque essa apenas está nos olhos de quem a quer ver.
O que senti foi compaixão quando o meu olhar se cruzou com outras mães que seguravam pelas mãos os seus filhos. É duro, muito duro! E nenhuma mãe devia passar por isso mas infelizmente as doenças crónicas acontecem porque sim, não escolhe idades, extratos sociais ou cores.
É nestes momentos que sentimos que o nosso Euro Milhões vive em nossa casa!
Uma casa! É o que se sente quando se entra ali, todas as portas estão abertas aos pais, existem salas de reuniões, um quarto para que possam descansar, uma "capela", jardins, várias salas de terapias e muito AMOR!
Onde tomam banho |
Este projeto é pioneiro em Portugal, situado em São Mamede de Infesta, para todas as crianças e jovens nacionais com patologia crónica dos 0 aos 18 anos com o objetivo de ajudar pais e cuidadores.
Esta árvore representa todas as crianças que morreram, sendo que em três anos só perderam 4. |
Neste momento existem 20 crianças, sendo que 10 estão em ambulatório e 10 em internamento.
Para o Kastelo não existem impossíveis e a prova disso é que as crianças ventiladas fazem todas as atividades, desde o parque aquático (adaptado) a uma visita de autocarro de Natal pela cidade.
Porque ali o que importa é dar vida aos dias.
"Em três anos só morreram quatro"...usar o termo "só" para escrever sobre estes anjos que partiram revela, no mínimo, uma enorme e lamentável ausência de respeito pelo sofrimento dos mesmos e das famílias!
ResponderEliminar