O coração de um pai

6.2.20

Em tempos já tinha escrito sobre o assunto de como é ter um filho, que tipo de coisas temos de fazer, o que vamos deixar de fazer (como dormir), como vamos dar de comida, como se muda uma fralda, se vamos ter jeito para as coisas, entre tantas outras dúvidas que nos surgem. Estas sempre foram as perguntas que os meus amigos mais me fizeram pois sentiam-se em pânico porque tinham um filho a caminho e não sabiam se seriam capazes.

A minha resposta era sempre a mesma: "não te preocupes, as coisas vão resolver-se por si e vais adaptar-te facilmente, não é nenhum "bicho de sete cabeças"".

E embora seja um clichê não podia deixar de ter o típico discurso "é a melhor coisa do mundo, vai compensar todo o cansaço e trabalho que terás. E quando receberes no final do dia um sorriso e um beijinho do teu filho faz com que todas as horas de sono valham a pena. As duas horas que ele demorou a comer a sopa porque estava a fazer birra porque queria ver desenhos animados na televisão ou a fazer birra porque queria comer um chupa assim que acordou, deixa de ter importância assim que ouvimos "desculpa pai" e nos dão de seguida um abraço.

Outra das perguntas que mais me fazem é "como é ter três filhos" ou então afirmam que sou  "maluco por ter ido ao terceiro".

Vou então esclarecer uma coisa, o ditado: "Quem tem dois tem três" é mesmo verdadeiro. O choque não é do segundo para o terceiro, mas sim do primeiro para o segundo, a partir do momento que há o segundo filho, nós pais temos de estar 100% disponíveis porque só a mãe ou o pai a estar com dois filhos sozinho é muito complicado.
Principalmente se falarmos de filhos com idades muito próximas, que é o meu caso. 

Por isso se tiveres coragem para ir ao segundo, não se preocupem que ir ao 3º é "piners" como diz o meu amigo Jorge Jesus.

Como escrevo pouco no blog estou a tentar abordar vários assuntos que sinto que possa ajudar outros pais por falta de informação online (existem muitos blogs de mães mas blogs com a visão do pai são poucos ou quase nenhuns). 

Como pai de três, acho que já tenho experiência para outros pais que se possam sentir em pânico e sem saber o que fazer. Confesso que até já pensei em ter um blog só para falar sobre o que o pai sofre, para dar o meu olhar de como é ser pai de um, de dois ou até de três filhos. 

Sem duvida que mãe é mãe, e são a coisa mais importante, com o maior peso na responsabilidade de “criar os filhos” mas sinto que o papel do pai é muitas vezes desvalorizado (pode ser porque poucas pessoas falam sobre o assunto, não sei... mas é o que sinto). 

Mãe é mãe, mas pai também é pai. Ambos têm, embora diferentes papéis, diferentes responsabilidades. É o conjunto dos dois que dá o equilíbrio necessário à criança. A grande diferença para mim é que o pai nasce menos preparado, talvez pela falta de informação que escreve à pouco. Portanto se eu ajudar pelo menos um pai a ser melhor, já fico feliz.

Mas voltando ao início sobre quando me perguntam "como é que nos preparamos para ser pai" ou "é difícil ser pai", além de tudo o que já mencionei, percebi há pouco tempo que me faltou sempre dizer o mais importante aos meus amigos.

É engraçado perceber que as perguntas andam sempre à volta da responsabilidade, se vamos saber fazer as coisas, das fraldas ou se vamos ser capazes para educar.

mas...

Amigos, há um coisa que não te preparam para quando és pai, é o Medo...





Se achamos que sabemos o que é ter medo ou pânico antes de ter um filho então quando temos um filho esse medo duplica cem vezes. Admito que só percebi a verdadeira palavra do medo quando tive filhos. A partir do momento que temos um filho, temos a "coisa" mais importante da nossa vida diante de nós. E vivemos atormentados com o facto que algo lhes possa acontecer. É este o verdadeiro o sentimento, pois o medo atormenta-nos.


Ter filhos traz-nos responsabilidade, felicidade, olheiras, maturidade mas também trás o verdadeiro sentimento do medo.

Eu e a Andreia ficamos a saber em Janeiro que o T vai ter que ser operado ao coração este ano (não vou entrar em pormenores, sei que a Andreia mais para a frente falará sobre o assunto). Após a operação sei que ficará ótimo, pelas palavras do médico é uma intervenção cirúrgica relativamente "simples" por isso acredito que tudo vai correr bem. É uma operação que deverá ser feita enquanto ainda é pequenino para que não tenha complicações no futuro. 

É aqui, é aqui que entra o medo. Nada, nem ninguém prepara um pai para esta notícia, que o teu filho tem que ser operado ao órgão que lhe dá vida, o seu motor. Sim, é um operação simples mas tal como respondeu o nosso médico quando lhe perguntei sobre o risco, “é uma operação simples e rápida com uma semana de recuperação, no entanto não deixa de ser uma operação ao coração, há sempre risco”. 

E aí tremi e fraquejei, nunca tinha sentido o que senti ali naquele gabinete. Perceber que o Tomás pode estar em risco, é um sentimento que não consigo explicar e só quem passa por algo semelhante percebe.

Foi aí que a palavra medo tomou proporções jamais imaginadas por mim. Porque o meu verdadeiro medo é esse. A ordem normal da vida é simples: os mais velhos vão morrendo e deixam a sua marca educação e preparam os filhos e netos para que assumam o comando das suas vidas. 
É assim que devia ser e não o contrario. Nenhum pai devia passar por ver algo de mal acontecer aos seus filhos. (sei que posso estar a ser muito mórbido, não é essa a minha intenção mas acredito que este medo não é só meu mas de todos que me estão a ler).

Aliado ao medo vem a felicidade. E se o medo assume um papel importante na nossa vida o da felicidade também. Ganhamos uma felicidade genuína quando somos pais pois os nossos filhos têm essa capacidade. Percebemos que tudo o que é mais importante está diante de nós e eles olham para nós como super heróis e é nesse momento que sabes que não vais ou poder falhar. Mas eles sabem que quem são os super heróis são eles e não nós.

É estranho quando começamos a dar um valor diferente aos sentimentos e à vida quando temos filhos..
Claro que era feliz e tinha medo antes de ter filhos mas quando se tem filhos tudo ganha uma dimensão maior, e o que achava ser medo deixa de ser importante comparativamente quando temos filhos.

Não se esqueçam que a vida é curta, aproveitem ao máximo com as pessoas que mais gostam, e tenham muitos filhos porque por experiência própria é a melhor coisa do mundo.

Por fim, desculpem-me se disse algo que não devia, mas não tenho muito jeito para estas coisas.

Um abraço

Bernardo






10 comentários:

  1. Amei! Acho que nós mães por não lermos as mentes dos pais, não conseguimos ver, por baixo daquela capa dura de roer, o quanto são frágeis, sensíveis como uma flor. ���� Dereti Andreia e Bernardo.
    Espero que, no futuro, se tiver o terceiro/a terceira que sinta isso "num todo". Pois custou-me agr quando tive a princesa. Senti-me a faltar ao mais velho e no início doeu-me muito e chorei parecia uma baby. Ahahah
    Beijoquinhas e muitas felicidades! �� �� �� ����
    Beijoquinhas,
    Sophye Oliveira (insta).

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  2. Que boa partilha ! Tenho a mesma convicção que mãe é mãe mas pai também é pai, e é tão importante o papel do papá! Que texto querido e representativo da paternidade. Felicidades aos 5❤️

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  3. Muito bom o seu testemunho!! Os pais deviam falar mais no assunto e abrir mais os vossos corações. No final de contas o medo é o maior desafio tanto para vós como para nós mães!!

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  4. Bernardo, parabéns pelo seu testemunho e oxalá muitos pais (homens) leiam isto e percebam as angústias e os medos, tudo natural.
    isabel pintobasto

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  5. Que bonito. Obrigada pela partilha Bernardo.

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  6. Incrível eu sou mãe e caramba este texto disse tudo, como eu me endentifico! Obrigada pela partilha��

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  7. Olá bom dia,

    Não sou muito de escrever em blogs, ou publicações, mas você acertou exactamente nos sentimos que sinto em relação a minha filha. A minha filha, o meu tesouro, a minha boneca de porcelana que vai estar ali sempre, numa bolha de cristal que nada / ninguém lhe vai fazer mal...sabendo eu no meu inconsciente que não pode nem deve ser assim, porque senão não vão aprender a lidar com as frustrações, negação, etc...fácil falar, mais difícil de fazer.

    Sei que sou um pai “ Next Level”, já que se ela espirra 4 vezes seguidas...penso que está a ficar doente, ou está num dia mau e está a chorar muito, penso que está a ficar doente, etc... penso logo que está alguma coisa que não é normal com ela...enfim sou um pai stressado, mas acima de tudo que amo o ser que eu e a minha mulher criamos em conjunto, é que eu tenho muito, mas muito medo que lhe aconteça alguma coisa. Pensava que era o único pai no mundo que não era “cool”, “super relax”, etc...

    Obrigado por conseguir colocar em escrito exactamente os meus sentimentos.

    Luís Gaspar Pedro

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  8. Tão verdade o que escreveu. E tão maravilhoso. Eu vivi, e vivo com MT medo. Meu marido faleceu e nosso bebê tinha 15 meses. Cresceu com toda a proteção, demais...
    Agora, com quase 21 anos, a terminar o curso de piloto, eu vivo APAVORADA! Medo de um acidente, pavor de um AVC (causa d morte do pai)
    Mas ele é feliz e, como bem escreveu, dá-me muitas alegrias.
    Boa sorte, Bernardo. Tudo irá correr pelo melhor com o vosso T.

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