Ao suspender a vida esta ganha vida própria e deixamos de a controlar. Por um lado o Covid-19 obrigou-nos a parar, a pensar e a reestruturar os valores que tantas vezes ficaram esquecidos com o stress do dia a dia mas por outro tirou-nos a nossa alma, roubou-nos os planos e qualquer perspectiva de futuro.
Primeiro encarei isto como umas "férias" forçadas e diferentes, depois tudo isto ganhou outras dimensões.
Estar longe das pessoas que fazem parte de nós custa. Ficar sem perspectivas do amanhã também mas sentir que um dos teus filhos precisa de apoio, de uma equipa multidisciplinar para o seu desenvolvimento vital para um futuro próximo custa horrores.
Parar uma semana é bom, até fecho os olhos para quinze dias mas mais que isso o meu coração treme só de pensar. As notícias sobre este tempo de quarentena não são animadoras e isso assusta-me.
No meu caso em particular, tenho muita coisa em jogo. Foram cinco anos a dar muito de nós para que o T tenha o desenvolvimento que tem para que este se perca em meses.
E isto eu não negoceio com este vírus invisível. Portanto o T hoje começou as suas terapias online. Estava verdadeiramente feliz por voltar ao seu ritmo, vestiu-se, meteu a mochila às costas e despediu-se porque ia para o Desenvolve-T. Ficou à minha espera e ainda me disse para me despachar. Ainda não tinha percebido que a terapia seria feita à distância, para ele foi uma novidade ter um écran a dividir a emoção, o toque e o seu esforço.
Sabemos que não é a mesma coisa, mas serve para segurar os mínimos, para que todo este trabalho não caía.
É verdade que o mundo não vai acabar, que existe uma vida pela frente. Mas quando falamos de desenvolvimento a conversa não pode nem deve ser a mesma. É uma corrida contra o tempo, é um trabalho árduo de prevenção e que não pode ser descurado em tempo algum.
O pico de desenvolvimento de uma criança é até aos seis anos, o T tem cinco e está com os pés num primeiro ciclo que tem tudo menos de simpático, e todos os dias são precisos.
Vai ser inevitável reformular todas as suas férias porque é preciso correr contra o tempo...
Quando comecei a trabalhar com o T (tinha ele um mês) eu só tinha um filho, não era fácil de gerir mas era fazível. Hoje, passado cinco anos tenho mais dois filhos. E hoje tive a perfeita noção que não consegui chegar aos três, senti-me a ser engolida pelas suas necessidades. O T a ter pela primeira vez terapia online, e eu com mais dois filhos a tentar gerir euforias e barulhos...
Não foi fácil! Não vai ser fácil... mas é a forma que encontrei para minimizar as consequências trazidas por esta pausa forçada.
E o Pai? O Pai, está a trabalhar em forma de tele-trabalho e não consegue segurar as pontas. Sim porque isto de se achar que se consegue trabalhar com filhos é a maior anedota deste COVID-19.
Neste momento foi a solução que encontrei e é o que vou fazer! Vou manter as suas terapias à distância. Ele adorou, tranquilizou o meu coração mas sentir que não consegui ter estado ali lado a lado frustrou-me.
Foi um dia difícil! Vão ser semana(s) desafiantes mas com a certeza que darei o meu melhor mesmo que ao fim do dia chore em silêncio por não ter estado mais presente, ao seu lado.
Sem comentários:
Enviar um comentário