Pensei muito sobre este assunto antes de vos escrever. Nem sempre é um assunto fácil de se falar, muito menos de o passar para o papel.
Mas não seria correto da minha parte não vos transmitir a verdade. Acima de tudo quero que, quem me leia e acompanhe pelas redes sociais sinta veracidade.
Acredito que não estou sozinha, que existe muitas frustração ao fim do dia em muitas de nós. Sentir que falhamos pode ser cruel para o nosso bem estar.
Quero também dizer-vos que antes de vos escrever pedi ajuda a uma psicóloga e ouvi o Dr. Eduardo Sá no Podcast da Rita Ferro Alvim sobre o assunto por isso o que vos escrevo não é só o meu ponto de vista mas também de profissionais.
Termos ficado com a responsabilidade de sermos professores dos nossos filhos deu-nos ainda um maior peso nas costas. Retirou-nos o oxigénio e faz-nos vacilar vezes sem conta.
Eu própria já me desfiz em lágrimas em frente aos meus filhos por ver que eles não estavam a corresponder às minhas expetativas, às atividades que no meu ver seriam didáticas ou às que a professora tinha enviado para fazerem.
É duro! É duro preparar materiais, despender tempo a organizar e a pensar no assunto, e depois... Nada! É muito duro!
Simplesmente não querem! Ou por falta de interesse, ou porque não é aquilo que esperam de nós ou porque não fazemos da forma mais eficaz. Não sei. Mas não fazem, ou fazem de uma forma completamente diferente do que imaginamos.
Depois ligamos o Teams ou as redes sociais e vemos os filhos dos outros com trabalhos perfeitos, super felizes a fazer atividades atrás de atividades, muitas delas também idealizadas por nós e ficamos na M***A.
E por mais que saibamos que é apenas uma imagem e que esta "vale o que vale", a pressão é tanta que não conseguimos separar as coisas e começamos a meter em causa o nosso papel enquanto mães e até as capacidades dos nossos filhos.
Entramos numa espiral sem fim, que nos atormenta a alma e afugenta os nossos filhos.
As minhas últimas semanas tinham sempre uma parte do dia tensas, onde eu stressava, gritava, onde eu e eles chorávamos.
Começou a fazer-me mal tudo aquilo, até que percebi que o meu caminho não era este, que não era por ali. E atirei tudo para o ar, sem medir as consequências.
Deixou de haver expetativas, atividades de caneta na mão e papel na mesa, deixou de haver planos e passou a haver liberdade! As televisões apagaram-se, os telefones e os tablets deixaram de existir e dei-lhes tempo apenas para serem crianças.
Deixei de ter materiais pensados para eles, mantive apenas os brinquedos, e deixei-os explorarem o que queriam e como queriam brincar. Desbloqueei-lhes a criatividade, dei-lhes tempo para pensarem, respirarem e para não fazerem nada.
Hoje em dia a informação é tanta que as crianças não sabem o luxo que é não fazer nada. Quero que se sentem e que fiquem com essa sensação de nada para fazer, porque será isso que os vai obrigar a pensar e arranjarem a sua brincadeira.
Entretanto interiorizei que mais vale uma criança feliz a brincar de forma livre, do que uma criança infeliz a fazer atividades orientadas por adultos, retirando-lhe espontaneidade e criatividade.
É fácil falar, eu sei... mas cabe a nós escolher o nosso caminho. Sendo que temos a responsabilidade de guiar os nossos filhos para um ambiente feliz e equilibrado.
Não sou, nem tenho a pretensão de ser professora deles. Neste momento já não quero saber se pintam fora do desenho, se querem ou não fazer porque já nem eu quero saber.
Os meus filhos ainda são muito pequeninos, têm uma vida para aprender o abecedário e os números. Vão ter tempo para fazer as contas mais difíceis, e as melhores composições.
Já eu nunca mais terei esta oportunidade de os ver crescer.
Não vejo este tempo perdido para uma criança mas sim ganho porque apesar de tudo foram obrigadas a parar as inúmeras atividades que os distanciavam de nós.
Hoje, não quero saber!
Não quero saber que me chamem de inconsequente ou irresponsável por deixar cair algo que tanto nos estava atormentar.
O que quero é que quando isto acabar os meus filhos se recordem deste tempo como um dos melhores das suas vida.