Incrível esta vida que nos prega partidas.
Quem diria que quando nos uníamos para celebrar a entrada neste ano que seria pelos entendidos promissor: o grande 20,20. Passado três meses estaríamos a atravessar uma das maiores crises de saúde pública a nível mundial.
Para uns é um vírus, para outros uma lição de vida. O futuro deixou de ser algo realista e palpável, o certo deu lugar ao incerto. O passado nunca foi tão longe como agora. E o presente passou a comandar.
A crise financeira instalou-se, as empresas pararam, os consumidores deixaram de comprar, os créditos à habitação ficaram suspensos e começou-se a fazer contas para aguentar algo que não tem data para terminar.
A poluição baixou drasticamente, o ar voltou a ser puro, os sons passaram a ser de árvores e de passarinhos e o ambiente agradeceu.
Nós deixamos de pensar em casas, carros e nas últimas tendências de moda e passamos a pensar nos nossos filhos, pais, avós, tios, amigos. E o quanto um abraço, tantas vezes menosprezado por nós, assumiu proporções nunca pensadas.
O Supérfluo ganhou dimensão e as pequenas coisas valeram-se disso mesmo.
As notícias falaram da morte, e assustou! Afinal... ela existe e nós não somos invencíveis!
A nossa casa teve de ser ajustada, teve que se transformar em escola, em parques de diversão, em escritório e em tantas coisas. E se até então a nossa casa já era o nosso porto de abrigo, agora mais que nunca tornou-se no nosso maior bem. É onde mora a nossa essência, a nossa alma.
A nossa vida teve de ser ajustada atendendo às circunstancias e uma vez mais mostramos a nossa capacidade de adaptação. As mudanças não são fáceis mas são necessárias para baralhar os dados e meter tudo em perspectiva.
No dia 13 de Março fizemos as malas, deixámos a nossa casa para trás sem data de regresso. Abraçamos uma nova casa (a nossa fim-de-semana) e adaptamo-la a nós. Uma casa que nunca mais será vista por nós com os meus olhos. Uma casa que nos será sempre especial, que nos acolheu, que deu abrigo às nossas incertezas, e enchegou as lágrimas, que nos deu liberdade e nos alimentou a alma vezes sem conta.
Num dos locais mais bonitos dos arredores de Lisboa, com um cheiro característico a pinhal e um brilho único. Tantas vezes dissemos que era um dos nossos sítios preferidos para vivermos e quem sabe se um dia não largamos a cidade e nos entregamos ao som dos passarinhos.
Afinal de contas foi aqui que a nossa história começou à 18 anos.
Ainda sem data de regresso, com medo do levantamento das medidas que tanto nos protegeram e da vida que deixámos para trás naquela sexta feira, 13.
Apenas com uma certeza, quando abrirmos a porta de nossa casa, não estaremos iguais.
Sem comentários:
Enviar um comentário