Desde cedo que percebi que tinha um filho diferente, mas essa diferença não se prendia pelo facto de ter trissomia 21 mas sim pela sua forma de estar na vida.
Pelo seu olhar doce, pela sua resiliência e pela forma que encara as pedras da vida.
Não sou eu que vos digo, são as pessoas que se cruzam com ele que dizem, "O Tomás encanta". E a prova disso é o carinho que tenho recebido por todos vocês. Um amor tão grande que tem chegado até nós e nos têm dado força quando quebramos. O nosso MUITO OBRIGADA!
O que mais ouço desde que aqui estamos é que o Tomás é a primeira criança que não se chateia, que permite que lhe façam as coisas mesmo quando as lágrimas lhe caem e por incrível que pareça foi a primeira criança (dito pelas enfermeiras) que não queria sair dos intensivos.
Este meu filho é a maior caixinha de surpresas que podia ter! É o meu herói e um verdadeiro exemplo da resiliência e da felicidade pura.
A vida nem sempre é justa mas cabe a nós encontrarmos ferramentas para tornar as adversidades em momentos de glória.
É este o caminho que tracei para nós, sabia que este dia quando chegasse, não seria fácil e não me enganei.
É duro! Ver um filho ligado a máquinas, é cruel e deixa-nos sem ar. Esquecemos por momentos que existimos, pois ali o que importa é ele e mais ninguém.
Pouco conseguimos ajudar, e o sentimento de impotência corrói-nos a alma. Ouvir um filho gritar e chorar por nós é de uma dor incalculável.
E cada vez que me dizem que o T tem de ser aspirado, eu morro por dentro mas ali não há tempo para desfalecer ou virar costas, é respirar fundo, vestir a capa mais bonita de "Super Mãe" e ir com tudo o que tenho.
Naquele momento falta-me a alma mas a minha força física sobrepõe-se a tudo o resto.
Quando me questionaram se queria sair, disse sem hesitar que não, se é para ele sofrer, que esteja amparado por mim. Disseram-me que eram raras as mães que conseguiam e eu agora sei porquê, porque de facto é traumático a todos os níveis.
Não sou melhor nem pior por assistir, esta sou eu, da forma mais crua que existe. Quem me conhece, sabe que avanço sempre sem medos, mesmo que não saiba como depois vou ficar.
Dou por mim ao longo do dia, a desejar que ele volte a correr, a saltar e a levar-me ao limite. Quando este dia chegar voltarei-a a tê-lo de volta, até lá é fazer de cada dia uma vitória mesmo que pequena que seja.
A operação, foi uma vitória! E ter saído dos intensivos também. Nunca tinha estado numa sala de intensivos (e ainda bem) e posso-vos dizer que ali tudo é cronometrado ao milésimo de segundo. Olhava a minha volta e via enfermeiras a darem tudo por aquelas vidas enquanto as suas famílias se viram sozinhas em casa. São os verdadeiros anjos na terra! Estão ali na linha da frente a darem o corpo às balas e isso é de louvar.
Agora começo a entender as suas manifestações por direitos. O médico é importante e decide é um facto mas os enfermeiros são uma peça fundamental no processo pois sem eles não se curam doentes.
Já engoli lágrimas, já as deixei cair vezes sem conta. E quando o sinto a quebrar eu quebro com ele mas quando ele volta a ganhar a vida eu consumo toda aquela felicidade do momento para que perdure comigo nos maus momentos.
Ganhámos duas batalhas mas ainda não ganhámos a guerra! O Tomás está a reagir bem, começa a andar, diz que não tem dores no seu dói-dói, e aos poucos e poucos começa a comer. Mas o pulmão ainda está com muitas secreções e a sua saturação não está nos níveis expectáveis e isso tem-no debilitado (muito).
Quero acreditar que melhorará e que em breve estaremos de volta à nossa casa, que tanta falta nos tem feito.
Até lá vamos sendo o colo um do outro. Hoje e Sempre!