Desde pequena que nunca tive medo de envelhecer. Não me custa imaginar as rugas ou as mãos enrugadas. Acredito que ambas contem histórias, que marcam as alegrias, as vitórias, as lágrimas e a tristeza.
A minha velhice não me assusta, mas atormenta-me a velhice de quem está à minha frente. E cada ano que passa é menos um que tenho o privilégio de estar.
Ontem à noite o céu ganhou mais uma estrela. A minha avó. A avó que via de tempos em tempos porque era a que vivia mais distante de mim mas que me aconchegava a alma sempre que me ligava para saber como eu estava.
Aqueles telefonemas "chatos" de cinco minutos, que chegavam sempre na pior altura, que me faziam abrandar para lhe responder e que tantas vezes lhe respondi sem saber o que estava a dizer pois estava embrulhada nas minhas mil e uma coisas.
Hoje sei que esses telefonemas chatos me vão fazer falta.
E o meu Natal, que gosto tanto, nunca mais terminará a 26 de Dezembro pois já não haverão parabéns para cantar.
A última vez que a vi, já lá vai um mês, sentia-a mais fraca, mas rejeitei da minha cabeça que aquele dia seria a minha despedida.
Oh Avó, nem um abraço, nem um beijo... O mundo está diferente e o Covid veio tirar-nos o que a vida tem de melhor, o aconchego humano. Tanta vontade que tive de quebrar as regras...mas tínhamos mil olhos em cima de nós e não ousei em fazê-lo.
Prometi-lhe que na próxima levaria os seus netos para os ver e já não fui a tempo. E isso entristece-me.
Para trás ficam as memórias e o nosso mês de Agosto. Aquele mês que tanto ansiava para estar junto de si e em que tudo fazíamos. O seu pão que fazias como ninguém e que eu adorava para torrada.
As voltas pelas aldeia de mãos dadas. A sua gargalhada tímida e os teus abraços quentes.
A sua pele clara, macia e os seus bonitos olhos azuis.
Deu ao mundo o melhor homem que alguma conheci e foi grande em passar-lhe valores difíceis de encontrar nos tempos de hoje, a pessoa que mais admiro, o meu pai.
Não sei bem onde está, sou das que acredita que agora está num sitio melhor que este, pois este para si já não estava a ser amigo para si.
Espero que o meu avô a receba aí em cima e que juntos olhem por nós porque nós cá continuaremos unidos.
Até sempre minha Avó!
Vamos perder mais gente por falta de diagnóstico e de amor e companhia do que de COVID. Um beijinho. Inês
ResponderEliminarVerdade ❤️
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