6 Estratégias para ajudar as crianças no momento em que estão hospitalizadas

19.10.20

No artigo anterior falei-vos sobre algumas reações e comportamentos gerais que a criança pode apresentar quando passa pela experiência da hospitalização. O objetivo é conseguirmos minimizar ao máximo o sofrimento da criança. Sabem que a hospitalização em determinadas situações pode ser inclusive uma oportunidade de aprendizagens positivas? Sim! Por exemplo é durante o internamento que por vezes os pais aprendem a massagem de relaxamento ao bebé…ou a saber interpretar o seu choro! Como profissional é esse o objetivo.

Quero partilhar convosco a minha visão pediátrica do cuidar as crianças e família que faz diferença quando existe um internamento ou um processo de doença. Funde-se com o conceito de parceria. Os familiares são atores principais, conhecedores privilegiados da criança e por isso “meus parceiros”. No entanto, é também importante que os pais saibam que as suas manifestações influenciam o comportamento da criança, mas que é legítimo terem as suas fragilidades e limitações, devendo recorrer aos profissionais de saúde para obter suporte. Não têm que estar sozinhos. Assim nesta dinâmica de equipa será mais fácil vivenciar o processo da hospitalização. Concordam?

Apresento-vos algumas estratégias que podem ser utilizadas pelos familiares ou outros cuidadores significativos da criança. São estratégias gerais e mais uma vez refiro que são necessárias adaptações à idade da criança. Aqui com certeza vão ter a ajuda do “vosso” enfermeiro.

Estratégias para aumentar o conforto da criança: 
  • Estar consciente para as alterações comportamentais da criança e conhecê-las (ver artigo anterior)
  • Garantir a presença de um acompanhante significativo para a criança. Está comprovado que esta presença representa melhores respostas ao nível físico (redução de níveis de dor, insónia…) e ao nível emocional (menor irritabilidade, agressividade). 
  • Sempre que possível manter-se na “linha visual” do bebé, tocar e oferecer afetos, mimo! 
  • Permitir a sucção não nutritiva (chuchar) provocando prazer e com isso afastamento do medo e ansiedade. 
  • Utilizar os objetos significativos da criança (ex: fraldinha de pano, numa criança mais velha pode ser uma foto, o seu telemóvel!) 
  • Sempre que possível preparar a criança para os acontecimentos. Deixá-la contatar com o material (brincadeira lúdica) (ex: mãe e filho colocarem a touca cirúrgica, manipularem uma seringa e deixar fazer uma “pica”no boneco!), contar histórias que a aproximem da realidade vivenciada: ”O Diogo vai ser operado!” “Anita no Hospital”. Brincar com o Playmobil do bloco operatório, desenhar o corpo humano identificando o local afetado… 
De acordo com a idade da criança encorajar a sua participação no processo de tratamento, incluí-la nas conversas, sempre em articulação com o enfermeiro responsável. Importante permitir a verbalização e exteriorização de sentimentos da criança e deixar sempre bem claro que os procedimentos não são punição (daí ser totalmente ERRADO os pais ameaçarem as crianças com “olha que se te comportas mal a Enfª dá uma pica!).
Fazer por manter ao máximo as rotinas familiares da criança (hora do banho por exemplo)
Proporcionar, tanto quanto possível, a liberdade de movimentos
O recurso a: Medidas de distração (musicoterapia, jogos, vídeos lúdicos, histórias), Relaxamento/Diminuição da tensão muscular (Massagem-proporcionando o relaxamento através da libertação de hormonas do relaxamento, Posicionamento de conforto, Respiração lenta/ou profunda, Mindufulness, Aplicação de Calor/Frio). Relaxamento criativo em momentos de dor ou procedimentos dolorosos (por exemplo imaginar que somos leves leves como o algodão, bater palmas com muita muita força! 

Utilizar o reforço positivo com palavras encorajadoras e a recompensa.
Dentro do possível tornar o meio hospitalar o menos “formal” possível, adaptando-se ao mundo da criança.

Talvez possam sentir que terão dificuldade em aplicar estas estratégias …mas como disse não estão sozinhos. Os profissionais de saúde irão ajudar. Neste período pandémico que atravessamos vemos medidas aqui referidas com algumas limitações a serem aplicadas, no entanto todos estamos sensíveis ao superior interesse da criança.

Enfª Ângela Baptista – Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica



______________________________________________________________________________________________________Nota Bibliográfica: Guias Orientadores de Boas Práticas de Saúde Infantil e Pediátrica – Vol II Ordem dos Enfermeiros 2011 


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