Recentemente o Tomás passou pela experiência da hospitalização. Nesse período muitos foram os comentários solidários para com uma situação pela qual todas as crianças e suas famílias podem passar um dia. Felizmente assistimos a um evoluir positivo, considerando-se somente quando estritamente necessária, e o menos duradoura possível. Representa uma experiência exigente para a criança e a família. Impõem-se alterações repentinas na rotina de vida.
Com base nos meus conhecimento partilho convosco sobre o que podemos esperar que a criança vivencie durante a experiência da hospitalização. Reconhecer é o passo mais próximo de compreender e ajudar.
O foco de quem cuida da criança internada passou a ser compreender a experiência da hospitalização, tornando-a menos traumática possível! A família é o maior parceiro do enfermeiro, o cuidador por excelência nos serviços de saúde por ser quem de fato está as 24H diárias. Ambos lutamos para o maior bem estar da criança.
Antes de mais quero tornar de vosso conhecimento a existência de um documento importantíssimo:
“A Carta da Criança Hospitalizada (1988)” , implementa dez direitos, que se assumem como mandatários no decurso da hospitalização. Destaco dois:
O 1º direito, que define de forma clara em que condições a hospitalização deve ocorrer: “A admissão de uma criança no hospital só deve ter lugar quando os cuidados necessários à sua doença não possam ser prestados em casa, em consulta externa ou em hospital de dia.”
O 2º direito, no qual encontramos respostas relativamente ao acompanhamento da criança: “Uma criança hospitalizada tem direito a ter os pais ou seus substitutos, junto dela, dia e noite, qualquer que seja a sua idade ou o seu estado.”
Assim, a criança deve estar próxima de quem ama, e que representa para si a sua segurança (exceto raras situações em que, por motivos muito particulares de saúde, a criança não possa estar acompanhada).
Falo-vos agora de fatores que foram estudados como sendo os mais expectáveis numa criança hospitalizada. Porque é importante? Reconhecê-los permite atuar e responder positivamente.
Ansiedade pela separação
O afastamento dos familiares, do domicílio, dos seus hábitos, cria na criança um conjunto de reações negativas – ansiedade. Pode manifestar-se com: choro, gritos, ataques verbais, agressões físicas; postura de desespero, comportamento desinteressado, de isolamento e mau humor, podendo depois atingir um comportamento de interesse pelo ambiente exterior e pela interação.
Perda de controlo
A criança irá vivenciar perda de controlo em relação às suas rotinas aos seus hábitos comuns no que se relaciona com o sono, alimentação, cuidados de higiene. Vê-se limitada na satisfação das suas vontades, e somado a isso muitas vezes vê-se dependente ou com limitações físicas relacionadas com o processo de doença/saúde em questão. A perda de controlo intensifica-se quando a criança percebe que o curso do processo de doença não depende de si. É de esperar que ocorram comportamentos de regressão, ou sentimentos de culpa, medo, vergonha, e frustração.
Lesão corporal e dor
O criança vive o medo da lesão corporal, da dor, da alteração da imagem, do comprometimento funcional do corpo. Existe um pavor perante a submissão a procedimentos técnicos (colheitas de sangue por exemplo). Para uma criança de dois anos, a presença de objetos estranhos, por exemplo um termómetro, poderá ser vista como uma ameaça.
Ressalvo que estes aspetos manifestam-se de forma diferente em idades diferentes. Assim também as estratégias utilizadas têm que se adaptadas. Para isso devem ter a ajuda do enfermeiro. Não tenham nunca receio de pedir ajuda. Têm o direito de ser ajudados neste processo. Estamos cá para isso.
No próximo post irei abordar estratégias para reduzir o impacto da hospitalização.
Enfª Ângela Baptista
Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica
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