Um ano que começa aproximar-se do fim mas que nos continua a deixar sem ar todos os dias mais um pouco.
Um ano difícil, que nos roubou o gosto pela vida.
As pessoas tornaram-se ainda mais egocêntricas, impacientes e com falta de empatia pelo próximo. O outro passou a não importar desde que o nosso esteja assegurado.
Nos olhos das pessoas vê-se medo. E os sorrisos deixaram de existir.
Um ano que assusta só de pensar para onde nos leva. E esta incerteza constante assusta e muito.
É ver negócios e negócios a esticarem até caírem. Famílias inteiras a perderem o seu sustento e o pão na mesa.
E se antes achei que aquela pausa forçada tinha sido a maior oportunidade que a vida tinha dado às famílias, hoje já grito aos céus para isto parar. Já teve "piada" mas basta!!
Já deu para rir, para apreciar a vida com outros olhos mas está na hora de voltarmos a uma normalidade que se dissipou no tempo.
E a falta desta luz ao "fundo do túnel" atormenta-me.
É um facto que temos uma vida inteira para ir ao cinema, jantar com amigos e até de dançar até os pés nos doerem mas quando esse dia chegar como estaremos todos nós? Como estaremos emocionalmente? Quantos voltarão a ter as suas vidas de volta desde que a pandemia se instalou?
Quem seremos nós? E os nossos filhos?
Os nossos filhos, esta geração que tanto me preocupa e me inquieta no meio disto tudo.
A minha Constança está a crescer sem ver sorrisos no rosto de desconhecidos. Não sabe o que é um colo de alguém que se acabou de conhecer. Não sabe o que é um concerto, nem tão pouco saberá o que é ter medo do Pai Natal, que se encontra em cada esquina no mês mais bonito do ano.
Ao Tomás e ao Francisco foram-lhe roubadas tantas coisas que já perdi a conta. Perderam as festas de anos com os amigos, os teatros, os musicais, os abraços e os beijos de quem os rodeia.
É isto que todos os dias me leva às lágrimas. É quando me perguntam (todos os dias) se falta muito para o Panda e o Caricas, quando lhes digo que não podem tocar nem abraçar quem não conhecem, que não podem ir à casa dos seus amigos da escola, que não podem entrar no parque infantil, que não podem, que não podem! Estou cansada! Estou seriamente preocupada com esta geração e no impacto que isto vai ter nas suas vidas.
Se me virem por aqui, vão ver uma família normal, com os cuidados necessários mas não vão ver a proibir de abraçar ou a partilhar um brinquedo. São crianças e não dimensionam o problema que estamos a viver. Acima de tudo não quero que vivam no medo e quando isto terminar, não quero que desconheçam palavras tão simples como partilha, empatia e amor.
Quero e faço todos os dias para que os meus filhos saiam disto com as mínimas sequelas emocionais.
Todo o nosso presente vai tomar proporções no seu futuro e é importante que em momento algum nos esqueçamos disso.
Que nunca nos esqueçamos que os nossos filhos jamais voltarão a ter 1, 2, 3, 4, 5...10 anos. Para o ano eles já não terão essa idade, os interesses mudarão e o mundo estará diferente.
Que sejamos todos conscientes das nossas atitudes, sem esquecer que temos a responsabilidade de não roubarmos o sorriso e a ingenuidade das nossas crianças pois o amanhã pode nunca mais existir.
Um dia acordaremos e eles estarão a sair de casa e tanta coisa se perdeu no meio de uma pandemia sem fim.
Um Natal que se aproxima pobre, sem a emoção das ruas, sem espetáculos, sem trocas de presentes, sem família e amigos.
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