Em tempos recebi uma mensagem para que pudesse falar sobre a dor de perder um filho ainda na barriga e embora saiba que infelizmente é algo que acontece não podia escrever algo que felizmente não sei o que é.
Acredito que exista dor, uma dor que nos corrói a alma, mas na vida há coisas que só quem passa por elas é que sabe.
Tenho consciência que é um assunto tabu, que pouco se fala, e que tantas mães são tratadas com indiferença, pela parte médica quando isso acontece.
E embora eu conheça muito pouco sobre o assunto, sei que um feto por mais pequeno que seja, é um bebé que se está a formar, e é nosso. Não precisamos de o ter nas mãos para chama-lo de filho ou até mesmo para o amar da mesma forma.
É uma perca! E um amor que teve pouco tempo para se materializar.
Hoje partilho uma história, não minha, mas de uma mãe, que sentiu essa dor.
Corria tudo bem até vir um resultado que nos abalou um bocadinho, lesão de alto grau no Colo do Útero, na altura não compreendi bem o que seria mas a médica que viria a ser a minha médica (Anjo no Hospital de Cascais) alertou-me que era muito grave e o meu problema era a gravidez, fiz biópsia, resultado final "Cancro no Colo Útero".
Vacilei, fiquei meio perdida, quais seriam as minhas hipóteses? Não queria perder o meu bebé, deram-me três soluções e escolhi a que para mim seria a mais acertada, ser tratada grávida. Fui tratada excelentemente e corria bem, mas às 20 semanas numa ecografia de rotina com uma médica que não conhecia levei com esta frase "o bebé está morto, não tem batimentos", assim sem preocupações e eu sozinha, digerir foi difícil, acreditar foi quase impossível.
Fui internada, explicaram-me que ia ser submetida a um IMG(Interrupção Médica Gravidez) que é um processo com protocolo e poderia durar horas ou dias, o meu durou quatro dias intermináveis, sozinha numa sala de partos a ouvir bebés a chorar e eu ali à espera do meu, sem vida, valeu-me a minha ginecologista que esteve comigo e não me deixou cair.
Foi doloroso e triste mas sou forte e segui em frente sem medo, engravidei novamente e perdi, continuei e perdi, perdi seis vezes, ou seja tive seis abortos (palavra feia) dois dos quais ainda fui à sala de operações. Fizeram-me testes, exames, imensos e nada conclusivo.
Desgastei-me, sofri bastante e apesar de muito querer este bebé desisti, a minha cabeça e o meu corpo também.
Este testemunho serve para?
Porque infelizmente ninguém nos prepara para isto mas também ninguém se chega verdadeiramente a nós quando acontece, ou porque não estão preparados ou porque simplesmente é mais fácil, quando digo isto falo dos médicos, enfermeiros, amigos chegados e família, sei que não é por mal mas a sociedade está enraizada desta forma. Nós que perdemos não queremos que se calem, queremos calor, amor, acompanhamento, dessa forma faz sentido, faz-nos bem.
Hoje com 48 anos não esqueço nada, nem um momento mas como diria o meu paizinho " o que tiver de ser será na hora certa" e foi, sem esperar e nada planeado a um mês de completar 45 anos, nasceu o meu Tiago, luz da nossa casa, a bênção que me faltava e que acalmou o meu coração".
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