Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que a Andreia disse: "vem aqui à sala, que temos que falar". Estava a começar a dar-lhes o jantar e larguei tudo, percebi de imediato pela sua voz, que algo não estava bem. Nessa fração de segundos, ocorreu-me que seria com o bebé. E de lágrimas nos olhos disse-me o que estava a acontecer. Como pai, foi impossível também não conter as lágrimas e ali ficámos na sala a chorar abraçados um no outro.
Para mim foi um misto de emoções, muito triste por perceber que não havia nada a fazer e que íamos perder o nosso quarto filho e preocupado porque não queria que a Andreia em momento algum estivesse em perigo. O meu medo foi tanto que a minha minha primeira pergunta foi se ela corria perigo e se ficaria com algum tipo de mazelas além das emocionais.
Como pai (ou para mim porque cada um sente de forma diferente) senti revolta e fui invadido pelo desespero, pelo medo, porque há muitos “se´s”. O que vai acontecer? Como é que vai acontecer? Como é que vai ficar a Andreia psicologicamente? Se existe perigo? E a temida pergunta, e se alguma coisa corre mal?
O sentimento de tristeza em perder um bebé (independentemente do número de semanas) é um sentimento de M*. Sofri, revoltei-me! Mas a minha preocupação maior foi sempre para com a minha mulher.
Há quem lhe possa chamar egoísmo, mas foi o que senti. A mãe dos meus filhos não podia estar em perigo. Ela é o pilar da nossa casa, e tanto eu como os meus filhos precisamos muito dela.
Quando os meus amigos perguntaram-me como é que eu estava, a minha resposta era sempre a mesma: "É uma situação muito triste, que ninguém equaciona mas para a Andreia é mil vezes pior, porque é ela que carrega o bebé na sua barriga e consequentemente é ela que vai ter de passar por um parto."
Não quero sequer imaginar a força psicológica que teve de ter para passar por tamanha situação.
Independentemente de tudo para mim é muito mais fácil “esquecer” mentalizo-me que é a vida e que infelizmente são coisas que acontecem, mas para a mãe, que teve e que ainda está a passar pelas mazelas do parto acredito que tome dimensões incalculáveis. E também quero acreditar que só quando estiver 100% fisicamente é que aos poucos começará a curar o seu lado emocional e a ultrapassar o trauma vivido.
Pode ser a minha maneira de ser, sou muito objetivo, pragmático e tento ultrapassar sempre as pedras do caminho com positivismo. E independentemente da minha dor, para um pai é sempre mais fácil pois não é o nosso corpo que foi violado e nem somos nós que passámos por um parto.
Tenho algumas dúvidas se alguma vez consiga ultrapassar esta dor por tudo o que já mencionei.
Agora é tempo de erguer a cabeça, seguir em frente. Apesar que sempre que olho nos olhos da Andreia vejo uma tristeza enorme, como nunca tinha visto. Sei que está a sofrer imenso lá no seu fundo.
Quanto à hipótese de voltarmos a ter um filho, a decisão é inteiramente dela. Irei sempre respeitar a sua vontade porque jamais irei sentir o que ela sentiu.
Um abraço
Pai
Um abraço do tamanho do mundo. Que pena que nem todos os pais(maridos) têm este tipo de opinião.
ResponderEliminarForça para os dois...os olhos da Andreia voltarão a sorrir
Sem palavras...difícil equacionar tremenda dor.
ResponderEliminarMas os vossos pilares são fortes e juntos vão dar a volta....no seu tempo..na medida em que seja possível.
Mas o vosso amor, a vossa linda família irá ultrapassar esse momento
Parabéns pelo sentimento,amor e muito respeito pela dor da mãe e preocupação pelo seu bem estar. 💕
ResponderEliminarTem um marido fantastico Andreia, tem imensa sorte em ter um marido assim 5*, que a compreende e se preocupa imenso consigo.
ResponderEliminarQuantas mulheres nao têm essa sorte, de ter esse ombro amigo, confidente e sobretudo um marido protector.
Um enorme abraço para toda a familia. 😊🥰
Sempre que troquei mensagens com a Andréia, as minhas palavras eram também para o Bernardo. E falava sempre na dor do Pai. São diferentes, tem dimensões diferentes, muito pela componente física que o Bernardo refere no seu testemunho. Mas a verdade, é que existe. Pai que é Pai, também chora e também sofre.
ResponderEliminarHoje o meu primeiro beijinho vai para o Bernardo. Força para os dois. Porque quem vos acompanha percebe o “novo” olhar da Andréia. Beijinhos enormes
💙
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