A Dor de um Pai

25.2.21

Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que a Andreia disse: "vem aqui à sala, que temos que falar". Estava a começar a dar-lhes o jantar e larguei tudo, percebi de imediato pela sua voz, que algo não estava bem. Nessa fração de segundos, ocorreu-me que seria com o bebé. E de lágrimas nos olhos disse-me o que estava a acontecer. Como pai, foi impossível também não conter as lágrimas e ali ficámos na sala a chorar abraçados um no outro.

Para mim foi um misto de emoções, muito triste por perceber que não havia nada a fazer e que íamos perder o nosso quarto filho e preocupado porque não queria que a Andreia em momento algum estivesse em perigo. O meu medo foi tanto que a minha minha primeira pergunta foi se ela corria perigo e se ficaria com algum tipo de mazelas além das emocionais.

Como pai (ou para mim porque cada um sente de forma diferente) senti revolta e fui invadido pelo desespero, pelo medo, porque há muitos “se´s”. O que vai acontecer? Como é que vai acontecer? Como é que vai ficar a Andreia psicologicamente? Se existe perigo? E a temida pergunta, e se alguma coisa corre mal?

O sentimento de tristeza em perder um bebé (independentemente do número de semanas) é um sentimento de M*. Sofri, revoltei-me! Mas a minha preocupação maior foi sempre para com a minha mulher.

Há quem lhe possa chamar egoísmo, mas foi o que senti. A mãe dos meus filhos não podia estar em perigo.  Ela é o pilar da nossa casa, e tanto eu como os meus filhos precisamos muito dela.

Quando os meus amigos perguntaram-me como é que eu estava, a minha resposta era sempre a mesma:  "É uma situação muito triste, que ninguém equaciona mas para a Andreia é mil vezes pior, porque é ela  que carrega o bebé na sua barriga e consequentemente é ela que vai ter de passar por um parto."
 
Não quero sequer imaginar a força psicológica que teve de ter para passar por tamanha situação. 

Independentemente de tudo para mim é muito mais fácil “esquecer” mentalizo-me que é a vida e que infelizmente são coisas que acontecem, mas para a mãe, que teve e que ainda está a passar pelas mazelas do parto acredito que tome dimensões incalculáveis. E também quero acreditar que só quando estiver 100% fisicamente é que aos poucos começará a curar o seu lado emocional e a ultrapassar o trauma vivido.

Pode ser a minha maneira de ser, sou muito objetivo, pragmático e tento ultrapassar sempre as pedras do caminho com positivismo. E independentemente da minha dor, para um pai é sempre mais fácil pois não é o nosso corpo que foi violado e nem somos nós que passámos por um parto. 

Tenho algumas dúvidas se alguma vez consiga ultrapassar esta dor por tudo o que já mencionei. 

Agora é tempo de erguer a cabeça, seguir em frente. Apesar que sempre que olho nos olhos da Andreia vejo uma tristeza enorme, como nunca tinha visto. Sei que está a sofrer imenso lá no seu fundo. 

Quanto à hipótese de voltarmos a ter um filho, a decisão é inteiramente dela. Irei sempre respeitar a sua vontade porque jamais irei sentir o que ela sentiu.


Um abraço
Pai




6 comentários:

  1. Um abraço do tamanho do mundo. Que pena que nem todos os pais(maridos) têm este tipo de opinião.
    Força para os dois...os olhos da Andreia voltarão a sorrir

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  2. Sem palavras...difícil equacionar tremenda dor.
    Mas os vossos pilares são fortes e juntos vão dar a volta....no seu tempo..na medida em que seja possível.
    Mas o vosso amor, a vossa linda família irá ultrapassar esse momento

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  3. Parabéns pelo sentimento,amor e muito respeito pela dor da mãe e preocupação pelo seu bem estar. 💕

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  4. Tem um marido fantastico Andreia, tem imensa sorte em ter um marido assim 5*, que a compreende e se preocupa imenso consigo.
    Quantas mulheres nao têm essa sorte, de ter esse ombro amigo, confidente e sobretudo um marido protector.

    Um enorme abraço para toda a familia. 😊🥰

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  5. Sempre que troquei mensagens com a Andréia, as minhas palavras eram também para o Bernardo. E falava sempre na dor do Pai. São diferentes, tem dimensões diferentes, muito pela componente física que o Bernardo refere no seu testemunho. Mas a verdade, é que existe. Pai que é Pai, também chora e também sofre.
    Hoje o meu primeiro beijinho vai para o Bernardo. Força para os dois. Porque quem vos acompanha percebe o “novo” olhar da Andréia. Beijinhos enormes

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