A notícia

22.2.22

Depois das expectativas geradas na última gravidez, tentei resguardar-me mais.

Não queria em momento algum passar por tudo publicamente, embora vocês tenham sido incansáveis.

E os meus filhos foram os primeiros a quem procurei resguardar. Sei o quanto é duro defraudar expectativas e derrubar sonhos por isso eu e o meu marido tomámos a decisão de só lhes dizer quando o sonho se pudesse tornar real.

Não foi fácil escondermos até porque o Francisquinho, logo no início, no elevador, virou-se para mim e disse-me "A mãe tem um bebé na barriga". Eu não queria acreditar no que tinha acabado de ouvir mas a verdade é que ele descobriu pela sua intuição.

Desde esse dia que me falava constantemente do assunto, nunca lhe neguei, mas também nunca  confirmei, sorria para ele e perguntava-lhe se ele gostava de ter mais um irmão.

Houve dias em que gritou bem alto "A mãe tem um bebé na barriga" que me congelava na hora.

O que é certo é que eu e o meu marido nunca falamos sobre este assunto em casa, e ler sei que os meus filhos ainda não sabiam, por isso era mesmo pura intuição.

Mais tarde o Tomás começou também a perguntar... E a Constança a dizer que a mãe tinha um bebé na barriga.

Aos poucos a barriga foi aparecendo, e a pressão para lhe confirmar aumentava. Mas aguentei, não queria, em momento algum, faze-los sofrer.

Entretanto fiz a amniocentese, e o repouso foi feito com eles em casa. Naquele dia souberam que eu tinha ido ao médico ver a barriga e a excitação aumentou.

Saí de casa a tremer porque sabia o quanto este exame definiria o nosso futuro. E por mais positiva que fosse, tive muito medo.

E ainda abalada por tudo que o que estava a passar, com um passado ainda a ecoar na minha cabeça, voltei para casa e quando chego, já no quarto, o Francisquinho perguntou-me "como correu? E se eu ia ter um bebé. Sorri-lhe e disse-lhe olhos nos olhos, "a mãe não sabe". Abraçou-me e ali ficamos alguns minutos. 

Eles estavam felizes, maquilharam-me para ficar bonita e passaram horas de volta de mim e a dar beijinhos na barriga.

E embora me sentisse feliz, tinha muito medo por eles.

Passaram-se quinze dias e o telefone tocou com a melhor noticia "está tudo bem com o bebé".

E nesse dia, sem nada planeado chamei-os e disse-lhes que a mãe tinha um bebé na barriga!! O Frnacisquinho disse de imediato que já sabia e todos festejamos!!

Eles estavam felizes!! E eu tive a certeza que lhes tinha dado uma vez mais o melhor presente.









A reunião

9.2.22

Depois de uma falha minha e que por incrível que pareça ainda não tenha resolvido dentro de mim.

Verdade! Uma coisa tão simples mas que mexeu tanto comigo e que me desgastou tanto emocionalmente. 

É certo que existem coisas piores e que não sou perfeita mas quando falhamos connosco próprias, tudo ganha outra dimensões...

Mas deixando este episódio menos feliz da minha vida no passado. Hoje consegui finalmente ter a oportunidade de ter uma reunião na escola do Tomás, onde ia expor cara a cara a quem de direito o que se tem passado.

Acredito que na vida tudo acontece por algum motivo, e mesmo que na altura não consigamos, pela tristeza e revolta, as respostas que precisamos chegarão.

E se antes chorei muito com esta minha falha, hoje olhando para trás agradeço por ter acontecido. Não aconteceu porque não tinha de acontecer.

Embora achasse que estava devidamente preparada, não estava. Não tinha sequer vivenciando na primeira pessoa o trabalho do Tomás na escola. 

Foi preciso haver as férias de Natal e a pausa do semestre, para pararmos, olharmos com atenção para os trabalhos e revermos com ele toda a matéria que tinha sido dada até ao momento.

E se já tínhamos algum receio, nessa altura tivemos a certeza que o Tomás precisa de mais apoio em sala.

Não é uma questão de acompanhamento porque este felizmente tem acontecido e ambas as professoras (Tutora e de ensino especial) têm feito um bom trabalho mas é uma questão de recursos humanos.

O Tomás precisa que exista uma pessoa a acompanho-lo, que o ajude a focar-se e o apoie nas suas dificuldades, num trabalho de um para um e por mais boa vontade que exista da professora, o Tomás não é o único aluno, além dele existem mais 19 a pedir a sua atenção. 

O problema é do sistema, que se diz inclusivo e que não é!

É bonito ter um decreto-lei 54/2018 para se mostrar que a Educação é inclusiva, quando na prática isso não acontece!

Este problema não é meu mas de uma sociedade retrógrada que chama inclusão a isto!

Na reunião senti-me como se tivesse no banco do "réu" no meio de tantos juízes que nada sabiam sobre o meu filho.

É isso o que é a EMAEI - Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva. E o engraçado é que esta equipa é simplesmente burocrática, não conhecem a criança e não estão no terreno para a ver. Pois bem na minha humilde opinião o que para mim é uma equipa multidisciplinar, é uma equipa que intervém directamente com a criança nas diferentes valências.

Os pais são chamados porque têm de ser, mas a equipa que trabalha com a criança fica de fora, porque não interessa. Na realidade o que mais interessa é a teoria, a prática é para se meter "debaixo do tapete".

Fui documentada e com os meus objetivos muito bem delineados, sabia bem o que queria. Não estava ali para ganhar, mas para o Tomás ter os seus direitos, é isto que quero!

Mostrei factos, agradeci o trabalho que tem sido feito mas pedi mais, não está tudo a ser feito, é preciso intervir. 

Ouvi que sou ansiosa e que até causo uma certa pressão ao meu filho, quando não é isso que acontece.

Eu acredito apenas nas suas capacidades, mas preciso que todas as pessoas também acreditem e como lhe disse enquanto houver alguém a fazer é porque é possível por isso não desistirei! A trissomia não define ninguém.

Dizem que a culpa é do Ministério da Educação, pois bem então eu vou lá! E alguém vai ter de me receber.

Desculparam-se que o Tomás é das crianças com mais apoio na escola, e eu agradeci por isso mas não é o suficiente. Lamentei naquela sala a desigualdade de oportunidades porque continua a ser revoltante perceber que o dinheiro é que dita o futuro da criança.

É inadmissível ter crianças autistas em casa, porque a escola não tem os apoios para dar resposta a essas mesmas crianças, como me disseram em forma de "desculpa", pois bem,  lamento muito! E lamentarei sempre.

Nunca precisei do estado, e dou graças a Deus por isso, mas e quem não pode? Como é que ficamos?

Ficamos nas medidas inexistentes escritas em decretos de lei?

Saí da reunião com o sentimento de missão cumprida porque lutei e fiz valer os direitos do Tomás. Defendi-lhe os seus interesses mas na realidade vim de lá sem nada.

Nada será feito! Porque a culpa é do Ministério da Educação... quando na verdade pode ser, mas também a escola não deixa os pais ajudarem nos recursos humanos que têm.

Eu não peço que invistam no meu filho, eu continuo apenas a pedir para deixem-me dar à escola o recurso humano que é preciso para o seu sucesso escolar.

Disseram-me que o Tomás é incrível, que é uma criança cheia de potencial e é verdade mas não posso deitar tudo a perder porque as teorias prevalecem na prática.

Sabem que mais, foi uma palhaçada esta reunião porque debateu-se o "sexo dos anjos".

Enfim!

É a Educação que temos no nosso país!

Se virem uma mãe em frente ao Ministério da Educação, olhem, porque posso ser eu! 

A mãe "maluquinha", apelidada de ansiosa.